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A energia que vem da China

Tyler Li, presidente da BYD no Brasil - Desenvolver o mercado de veículos e equipamentos elétricos. Essa é a missão da BYD, empresa chinesa especializada na fabricação de baterias recarregáveis, que conta com uma fábrica em Campinas, onde já monta chassis de ônibus e, em breve, dará início à produção de painéis solares. Tyler Li, presidente da BYD no país, fala sobre o futuro da companhia e detalha o portfólio de produtos, que inclui ainda carros, empilhadeiras e até caminhões totalmente elétricos, que utilizam as baterias mais modernas e eficientes do mundo
Por Redação em 15 de setembro de 2016 às 11h12 (atualizado em 08/08/2018 às 15h22)

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Revista Tecnologística – A BYD é a maior fabricante global de baterias recarregáveis. Conte-nos um pouco mais sobre a empresa.

Tyler Li – Ela foi fundada em 1995, portanto ainda é bastante jovem. Temos apenas 21 anos de idade, mas crescemos muito rápido. Começamos com 20 funcionários e hoje temos quase 190 mil em todo o mundo. Temos fábricas na China e também no Japão, na Índia, na Hungria, nos Estados Unidos, na Coreia do Sul, no Egito, na Rússia e aqui no Brasil. Ao todo são 24 unidades fabris, sendo oito fora da China. A empresa nasceu focada essencialmente no segmento de baterias para celulares, mas hoje temos, além da divisão dedicada à tecnologia da informação, divisões de veículos e de novas energias. Não somos somente a maior fabricante de baterias do mundo, como também somos os desenvolvedores das baterias de fosfato de ferro-lítio. São produtos com uma vida útil muito maior do que as baterias comuns, que utilizam cobalto, por exemplo, e duram três ou quatro anos. Estamos falando de uma vida útil de 30 anos, com até 10 mil ciclos de carregamento.

Tecnologística – A tecnologia foi desenvolvida pensando nas baterias usadas em aparelhos celulares?

Li – Não exatamente, pois ninguém quer ficar 30 anos com um mesmo celular. A vida útil desse tipo de aparelho é muito menor que isso. Mas quando falamos sobre veículos e sistemas de energia estacionários, a aplicação faz todo o sentido. Apesar de ser uma bateria mais cara e mais difícil de ser produzida, a vida útil prolongada faz valer à pena para segmentos como carros, ônibus e caminhões. Além das baterias, somos também os maiores fabricantes de carros, ônibus e caminhões elétricos no mundo, e recentemente entramos também no mercado de empilhadeiras.

Tecnologística – Mas o setor de TI ainda é forte na empresa?

Li – Sim. Nesse segmento somos fornecedores de empresas como Apple, Google, HTC, Motorola e Nokia. A BYD atua tanto com baterias como com componentes e também no serviço de montagem dos equipamentos. Em alguns casos, como com a Motorola e a Nokia, por exemplo, auxiliamos na criação de vários modelos de celulares que fizeram muito sucesso, fazendo o design, fabricando o material e montando os aparelhos. O segmento de TI representa hoje cerca de 30% de toda a receita da BYD, portanto ainda somos muito fortes nesse mercado.

Tecnologística – E quanto aos outros segmentos de atuação?

Li – No setor automobilístico, em 2003 a BYD comprou a Tsinchuan Automobile, que era uma empresa bastante popular na China, criando a BYD Auto e desenvolvendo nossos próprios modelos. Vendemos muitos veículos e crescemos muito rápido nesse segmento, mas percebemos que, mesmo depois de alguns anos, ainda estávamos longe de concorrentes como Mercedes e Volkswagen, por exemplo, que já estavam nesses mercados há muitos e muitos anos. Então chegamos à conclusão de que devíamos seguir um caminho diferente. E assim entramos para o mercado de carros híbridos e elétricos.

O primeiro modelo que produzimos foi o E6, testado em 2010 como taxi e lançado em 2011, e o F3DM foi o primeiro carro híbrido plug-in fabricado em grande escala no mundo. Hoje somos os maiores vendedores de veículos totalmente elétricos, seguidos por empresas como Nissan, Tesla e Mitsubishi. A previsão é encerrar 2016 com cerca de 200 mil veículos vendidos, enquanto nossos concorrentes venderão cerca de 70 mil unidades. São números em franco crescimento. No ano passado vendemos 62 mil veículos, e neste ano vamos pular para os 200 mil. É um aumento muito expressivo.

Tecnologística – E quanto ao segmento de novas energias?

Li – Nesse mercado, além das baterias de fosfato de ferro-lítio, estamos falando sobre energia fotovoltaica, ou solar, com paineis solares e sistemas de armazenamento de energia. Acabamos de anunciar a instalação de uma fábrica de paineis em Campinas, com capacidade para produzir 200 megawatts.

Tecnologística – O Brasil ainda não representa um mercado de carros elétricos e de energia solar realmente sólido. O que exatamente fez a BYD decidir se instalar no país?

Li – Aqui em Campinas teremos, em breve, a produção dos paineis solares, mas já estamos montando chassis de ônibus elétricos. O Brasil é o segundo maior mercado de ônibus em todo o mundo, atrás somente da China. Então nós vemos muito potencial para nossos veículos elétricos no país. É um mercado muito grande. Nós sabemos que o país é bastante protecionista, por isso optamos por ter uma fábrica local, até mesmo para estimular a produção nacional.

Quando viemos para o Brasil não esperávamos encontrar a crise econômica que o país enfrenta, mas estamos oferecendo produtos únicos e apostamos muito neles. Nossos veículos são pensados de maneira personalizada para cada mercado em que estamos presentes, pois cada um deles possui características diferentes. Além disso, o Brasil é muito rico em recursos minerais, especialmente nas regiões dos estados de Minas Gerais e do Amazonas, e isso é importante para o nosso negócio.

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Tecnologística – Como exatamente essa crise influenciou os negócios da BYD no Brasil?

Li – Na verdade, como inauguramos a fábrica em 2015, e nos últimos anos o mercado consumidor tem segurado os investimentos, nós pudemos usar esse tempo para nos adaptarmos da melhor maneira possível à realidade brasileira. Então a crise não atingiu gravemente a BYD. Foi possível planejar com cuidado, ouvir o mercado, entender o que o consumidor deseja e como podemos adaptar e melhorar nossos produtos, para estarmos preparados para quando as empresas começarem efetivamente a comprar.

Depois de passar por esse período de aprendizagem, podemos dizer que hoje sabemos como atuar no mercado brasileiro. E existe ainda a máxima de que os desafios também significam oportunidades. Se existe uma crise, as pessoas e empresas precisam reduzir seus gastos.  Superar crises demanda novas soluções, e nós estamos trazendo novas soluções. É uma oportunidade para empresas como a BYD, que está mudando a maneira como as coisas eram feitas até então.

Tecnologística – Essa customização dos produtos de acordo com o país é um procedimento padrão da empresa?

Li – Sim. De uma forma geral, cada país tem seus produtos específicos. Nossa intenção nunca é simplesmente copiar os produtos para cada um dos mercados em que atuamos. Procuramos sempre conhecer as particularidades para oferecer a melhor solução. E isso faz parte de um estudo mais aprofundado ainda, feito para penetrarmos em cada um dos países da melhor maneira possível. No Brasil, por exemplo, percebemos que o segmento de ônibus era a melhor opção para a empresa, por isso decidimos trazer esse produto primeiro e, com o passar do tempo, introduzimos outros, mas sempre dando um passo de cada vez. Mas a intenção, claro, é disponibilizar todos os nossos produtos no Brasil.

Tecnologística – Você disse que a BYD está investindo agora em empilhadeiras elétricas também?

Li – É um negócio novo na companhia. Entramos para esse mercado há poucos anos, movidos pelo nosso principal negócio, que são as baterias. Nossa intenção é utilizá-las nos mais variados tipos de veículos. Não somente em carros, mas também em ônibus e caminhões, e as empilhadeiras não poderiam ficar de fora. As empilhadeiras disponíveis no mercado são, falando sobre a máquina em si, bastante similares, então nossa bateria faz a diferença. O mercado de empilhadeiras elétricas já é bastante grande no mundo e está crescendo muito rápido no Brasil, mas nossa bateria representa uma tecnologia muito mais avançada.

As baterias tradicionais precisam ser retiradas dos equipamentos e levadas até as salas de carregamento para, depois de receberem a carga, voltarem para as empilhadeiras. No caso dos nossos produtos, basta conectar a tomada e carregar a bateria. Isso elimina a necessidade de ter toda uma área separada somente para a recarga. Além disso, elas são ecologicamente corretas, pois não são tóxicas, duram muito mais e são recicláveis, evitando o descarte. Elas não demandam nenhum tratamento especial, como as baterias convencionais, que passam por alguns processos químicos para poderem ser recicladas. E o ferro é muito mais estável, não oxida, não queima, não explode mesmo se for exposto ao fogo, você pode tocar sem nenhum problema, diferente do cobalto e do magnésio, que muda simplesmente ao entrar em contato com o ar. Elas são muito mais seguras, inclusive para trabalhos em ambientes fechados, como armazéns. Segurança é um assunto muito importante para a BYD.

Tecnologística – Como tem sido a recepção das empilhadeiras no Brasil?

Li – Muito boa. Temos cerca de 30 projetos-piloto em andamento, com grandes empresas utilizando nossos equipamentos, incluindo os Correios e algumas das principais montadoras de veículos do país. Em uma empresa do setor de bebidas, por exemplo, a operação acontece de forma ininterrupta. As empilhadeiras são carregadas em três intervalos de uma hora durante o dia, quando os funcionários param para as refeições, e somente essas três paradas cobrem o funcionamento das máquinas durante todo o dia, sete dias por semana. A intenção é que, com o crescimento da demanda, possamos cada vez mais passar a produzir localmente.

Outra característica interessante é que é possível realizar recargas parciais da bateria sem reduzir a vida útil dela, então não é necessário sempre carregar a bateria em 100% antes de retomar o uso. Mas o carregamento completo também é bastante rápido, levando cerca de 2 horas. A autonomia dos equipamentos depois de carregados é de até 16 horas, dependendo do porte e do peso da carga transportada. E o mais importante é que o conceito das nossas empilhadeiras é de uma bateria para toda a vida útil do equipamento, devido à longevidade. Você nunca vai precisar trocar a bateria da sua empilhadeira.

Tecnologística – E o mercado de caminhões elétricos?

Li – Acabamos de fechar dois grandes contratos, um com a Beijing Sanitation Company, na China, e o outro nos Estados Unidos, com o Porto de Los Angeles. No momento o nosso foco nesse setor está nas aplicações urbanas, pois é bastante fácil desenvolver métodos de carregamento das baterias, por existirem muitos pontos de energia que podem ser utilizados para os mais diferentes veículos elétricos, seja carros, ônibus ou caminhões. E também é nos grandes centros urbanos que está a grande concentração de poluição, e nossos veículos não poluem, além de serem silenciosos. Não estamos preocupados somente com a eficiência energética, mas também com o impacto dos nossos veículos no meio ambiente, na saúde das pessoas e na qualidade de vida.

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O próximo passo é pensar nas operações de transporte de longa distância, mais precisamente entre cidades e estados, por exemplo. Nesse caso, é preciso haver pontos de carregamento no meio do caminho, pois uma recarga completa dá a um caminhão uma autonomia de 200, 250 km. Mas no momento nosso foco é realmente no perímetro urbano, com vans e caminhões para carregar lixo, concreto, para entregas expressas etc.

Tecnologística – Como funcionariam esses pontos de carregamento para viagens maiores?

Li – Uma das vantagens das baterias de fosfato de ferro é que elas podem ser carregadas de várias maneiras, e não sempre até 100%. Você pode estar com 20%, carregar até 80%, rodar até chegar a 50% e então carregar novamente, por exemplo. E, lembrando, isso não altera em nada a vida útil da bateria. Somente em Campinas já existem sete pontos de carregamento. Por isso estamos focando primeiro nos centros urbanos. No caminho entre Campinas e São Paulo já existe um ponto. Na cidade de São Paulo, são 20 pontos. Então em vez de você parar no posto de gasolina, você para no ponto de carregamento, pluga o seu veículo e carrega a bateria.

Tecnologística – E a quem pertencem esses pontos de carregamento?

Li – Normalmente às próprias concessionárias de energia. Elas podem, por exemplo, comprar os nossos carregadores, mas elas mesmas costumam ser as donas dos pontos de carregamento. A estrutura necessária é muito menor do que a de um posto de gasolina. Esses pontos de carregamento podem ser instalados em estacionamentos de shoppings, por exemplo, ou até mesmo em pequenas garagens. Os postos de gasolina precisam de grandes espaços, de uma infraestrutura maior, de uma grande área de armazenamento para os combustíveis abaixo do solo. Com o conceito de veículos elétricos mais desenvolvido, você poderá ir ao supermercado e, enquanto faz as compras, seu carro fica plugado carregando.

Tecnologística – Como funciona exatamente a cobrança do carregamento?

Li – Na verdade existem vários modelos diferentes de cobrança. Você pode simplesmente passar seu cartão, por exemplo, mas no momento a maioria desses pontos não está cobrando nada, porque o gasto com energia é muito baixo. Se você carregar seu carro totalmente, o custo é de cerca de R$ 3. Então um modelo interessante de cobrança é você pagar por um estacionamento e receber a recarga de graça, digamos. Ou então você vai comer em um restaurante e, enquanto faz sua refeição, seu carro é carregado. O seu gasto com a comida ultrapassa e muito o valor da energia.

Tecnologística – O custo é baixo mesmo para as baterias dos caminhões?

Li – Sim, o preço é relativamente baixo. Para carregar totalmente um caminhão você gasta cerca de R$ 10. O combustível é um dos maiores custos na atividade de transporte, então com certeza esse mercado será muito importante para nós, pois os caminhões elétricos significarão uma economia muito grande para o setor. Empresas que atuam na atividade de distribuição poderão se beneficiar muito com isso.

Recentemente nós vendemos dois caminhões para a DHL, que são usados no Rio de Janeiro. E os benefícios foram muitos. Não só devido à eficiência energética, mas à redução nos ruídos e na emissão de gases. Mas existem também os ganhos operacionais. Quando o motorista para o veículo, ele não precisa desligá-lo. Mesmo com o ar condicionado funcionando, ele consome pouquíssima energia quando está parado. O preço de compra é mais alto, mas as vantagens fazem os veículos elétricos valerem muito à pena.

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Tecnologística – As baterias utilizadas no Brasil já estão sendo produzidas em Campinas?

Li – As células são importadas da China, e então nós montamos aqui os módulos e pacotes, integramos os sensores e sistemas etc. Mas os planos da empresa incluem a produção local, até porque temos todos os recursos naturais no Brasil. Estamos caminhando com um passo de cada vez. Atualmente, só cinco países produzem as células: China, Coreia, Japão, Taiwan e Estados Unidos. A BYD é a única empresa que pode produzir fora desses países, justamente porque o Brasil possui os recursos naturais. E faz todo o sentido também, porque o Brasil e a América Latina consistem em mercados enormes.

Tecnologística – A BYD tem planos para fornecer baterias para outras companhias também, ou a intenção é equipar somente os próprios produtos?

Li – Nós podemos fazer isso, como já fazemos no caso dos telefones celulares ou das ferramentas da Bosch, por exemplo. Muitas empresas já compram nossas baterias, e nada impede que isso aconteça em outros segmentos também. Tudo depende do crescimento dos mercados. Nós já fornecemos baterias para a Daimler, para os veículos elétricos de luxo da marca Denza, na China. A Denza, na verdade, é uma joint venture entre a BYD Auto e a Daimler.

Tecnologística – Como você vê o futuro da BYD no Brasil?

Li – O Brasil é um país muito grande e representa um mercado potencial enorme para a BYD. Estamos aqui para desenvolver esse mercado e poder atendê-lo conforme ele cresce, em longo prazo, percebendo as novas oportunidades e evoluindo nos negócios um passo de cada vez. Eu vejo o futuro da BYD no Brasil com o mesmo sucesso que a empresa possui na China. Eu espero que nós possamos contar com mais fábricas em território nacional, mais produtos feitos especificamente para o Brasil e fabricados localmente. Não é fácil fazer negócios no mercado brasileiro, especialmente pelas dificuldades impostas pelo governo, então é possível dizer que, se estamos obtendo sucesso por aqui, estamos preparados para atuar em qualquer país do mundo.

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