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Novas energias

João Carlos Waldmann, diretor da JLW Eletromax - De olho no mercado de baterias de lítio para as mais diversas aplicações, a JLW Eletromax realizou investimentos de aproximadamente R$ 10 milhões nos últimos cinco anos. Dentre as novidades estão a ampliação e a atualização do portfólio de produtos e a inauguração da nova planta fabril, maior e mais moderna, para suportar a demanda esperada para os próximos anos. O diretor João Carlos Waldmann detalha os planos da empresa e analisa os impactos da adoção da nova tecnologia tanto no mercado de empilhadeiras quanto no de veículos
Por Redação em 20 de junho de 2018 às 11h15 (atualizado em 23/07/2018 às 14h19)
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Fotos: Radamés Jr.

Em 2018 a JLW está fazendo 30 anos, correto?

João Carlos Waldmann – Exatamente. A empresa como é hoje foi fundada em 1988, mas na verdade nós podemos dizer que a história da JLW começou em 1962, com a indústria de transformadores e reguladores de voltagem que pertencia ao meu pai. Esse não era o foco da empresa, mas ele fabricava alguns carregadores de bateria também. Em 1976, quando meu pai faleceu, minha mãe quis dar sequência aos negócios e eu, na época com 16 anos, comecei a trabalhar na empresa. Tudo ia bem até que, em 1980, o país entrou em uma crise econômica enorme e nós passamos por uma situação muito difícil. Já com os negócios praticamente parados, certo dia uma pessoa bateu na minha porta perguntando se eu tinha um dos carregadores de baterias que meu pai fabricava. Percebendo uma oportunidade, eu me voltei então para a fabricação desses equipamentos, focando em automóveis.

Em 1984, eu fui chamado por uma companhia de Campinas (SP) que armazenava suco de laranja para consertar um carregador que estava apresentando problemas. Chegando lá, eu tive o meu primeiro contato com um carregador de baterias para empilhadeiras elétricas. Existia pouca gente qualificada para lidar com eles, então eu comecei a atender diversas empresas. Com base nisso, em 1988 eu e meu irmão fundamos de fato a JLW, que agora completa 30 anos de história.

Como se configura o portfólio de produtos da empresa hoje?

Waldmann – Nós lidamos com carregadores de baterias, tanto para a linha automotiva quanto para empilhadeiras, carrinhos de suporte e máquinas de solda. O mercado de carregadores para automóveis foi grande até o final dos anos 1980, início da década de 1990, mas com a evolução dos veículos ele foi diminuindo. Nossos grandes clientes nesse segmento eram as autoelétricas, oficinas mecânicas e estacionamentos. Hoje, porém, os carros demandam muito menos manutenção, por isso o setor de empilhadeiras foi ganhando muito mais destaque dentro dos nossos negócios, primeiro com os carregadores com transformadores e hoje com os carregadores de alta frequência.

E é interessante destacar que, ao longo de todos esses anos, nós lidamos sempre com pessoas muito boas, que foram crescendo dentro das suas respectivas companhias. Então hoje nós temos um relacionamento muito bom com gerentes, diretores e presidentes de grandes empresas do segmento de empilhadeiras, e o crescimento da JLW se deve muito a isso também. O bom atendimento nos permitiu crescer junto com essas companhias, que contam com os nossos serviços há muitos anos.

A recente crise que o país atravessou afetou os negócios da JLW?

Waldmann – Sim. De quatro anos para cá as vendas apresentaram uma grande queda, e é justamente nesses momentos que uma empresa precisa se reinventar, por isso nós fomos buscar novos produtos para nos mantermos ativos no mercado. É muito importante para os negócios saber a hora de “pular para o outro galho”, por assim dizer.

Todo produto acaba se defasando com o passar dos anos, então é preciso estar sempre inovando, trabalhando com novos conceitos. É claro que para algumas aplicações os carregadores com transformadores ainda continuarão sendo utilizados, por exemplo, e que hoje nós trabalhamos com bastante ênfase com os equipamentos de alta frequência, mas estamos partindo para os carregadores e baterias de lítio, que são a nova tendência do mercado, assim como os veículos elétricos também serão no futuro. É preciso estar atento a tudo isso para estar preparado para atender os clientes quando a demanda crescer, senão você fica para trás.

Nós estamos sempre muito ligados e buscando esses novos mercados. A tendência de migração para as baterias de lítio para empilhadeiras é muito forte em especial na Europa. E em paralelo a isso nós estamos desenvolvendo alguns projetos ligados a veículos elétricos pesados, como caminhões, ônibus e veículos militares. São investimentos bastante altos, que não sabemos exatamente quando vai dar retorno, mas que nos deixam preparados para o futuro.

A utilização de veículos elétricos já é uma realidade. Hoje São Paulo tem cerca de 14.400 ônibus circulando, e 300 deles são elétricos, por exemplo. Até 2032, todos os ônibus movidos a diesel serão extintos da cidade, restando apenas os elétricos. Então existem muitas empresas visando esse mercado, que vai ser bastante interessante no futuro.

A JLW está prestes a inaugurar uma nova unidade, certo?

Waldmann – Sim, e estamos fazendo isso pensando justamente no crescimento desse mercado de baterias de lítio. A JLW começou ocupando uma área de apenas 40 m², em 1988, que ficava atrás da minha casa, em Capivari (SP). Em 1990 nós ampliamos essa área em 140 m² e dois anos depois partimos para um prédio alugado, com 250 m². Em 1996 nós passamos para um espaço de 1.000 m² e hoje estamos em uma área de 3.400 m². E essa nova fábrica, muito maior, deve ser inaugurada ainda este ano, também em Capivari.

Ela já está praticamente pronta, e só não entrou em operação ainda em função da queda que o mercado apresentou nos últimos anos. Não teria por que inaugurarmos uma fábrica em um momento de crise. Por isso nós aguardamos um pouco e, agora, com o mercado demonstrando uma reação, estamos acelerando alguns detalhes finais, mais ligados ao acabamento mesmo, para podermos fazer a inauguração.

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Divulgação

Quanto a JLW investiu na nova estrutura?

Waldmann – Entre a fábrica e também novos produtos nós investimos, nos últimos cinco anos, quase R$ 10 milhões em recursos próprios.

As baterias de lítio exigem uma reformulação nos processos fabris, por isso o espaço maior?

Waldmann – Não, porque na verdade o que nós fazemos é montar o equipamento. Algumas empresas falam em produzir baterias de lítio no Brasil, mas trata-se de um material extremamente instável e que demanda muitos cuidados. Hoje a tecnologia do lítio está presa, basicamente, a Japão, Coreia e China. Nós temos, aqui na América do Sul, jazidas de lítio, em especial na Bolívia, no Chile, na Argentina e também no Brasil, mas não temos ainda a tecnologia para lidar com o material. Na nossa fábrica nós vamos montar as baterias utilizando células prontas importadas da China, mas todo o resto é conteúdo nacional.

Então na verdade o espaço maior é reflexo do mercado que estamos enxergando para o futuro. Podemos dizer que estamos passando por uma mudança de conceito na JLW, deixando de ser uma empresa de elétrica e passando a ser uma empresa de eletrônica.

Com isso o portfólio de produtos será bastante alterado?

Waldmann – De certa maneira ele já vem sendo alterado. Nós passamos a produzir placas eletrônicas para vários tipos de aplicações, além dos carregadores no sistema de alta frequência, saindo de transformadores para um trabalho eletrônico também. É interessante mencionar que, em função disso, a empresa passou a demandar um espaço menor para fabricar os carregadores, mas mesmo assim estamos migrando para uma fábrica maior apostando no crescimento da procura por baterias de lítio.

Além disso, essas baterias demandam um gerenciamento, o chamado BMS (Battery Management System). Essa tecnologia permite a comunicação com outros sistemas e também todo o controle sobre a bateria, de temperatura, tensão, etc. É fundamental dominar essa tecnologia e todas as suas particularidades, em especial porque estamos falando de baterias para diferentes aplicações, sejam elas estacionárias ou para empilhadeiras, caminhões e ônibus. E a JLW já conta com seu BMS próprio, 100% nacional, feito juntamente com um parceiro do setor de tecnologia, totalmente adaptado para a realidade do mercado nacional.

Entre os mercados de caminhões e de empilhadeiras, qual deve aderir mais rápido ao uso das baterias de lítio?

Waldmann – As empilhadeiras elétricas já são uma realidade, e nesse caso estamos falando, na verdade, somente de um novo tipo de bateria para máquinas que já existem. Muitas empresas já aderiram ao lítio para suas empilhadeiras, então é visível que esse mercado tem muito mais facilidade para liderar esse movimento, até mesmo porque são equipamentos transitando em um ambiente menor e mais controlado na comparação com os caminhões, que estão nas ruas e rodovias. Mas é só uma questão de aderir mais rápido mesmo, porque a mudança vai acontecer para todos os setores.

Falando especificamente de caminhões, nós somos parceiros da Man Latin America no desenvolvimento do veículo 100% elétrico da companhia, que foi mostrado no último Salão Internacional da Indústria do Transporte (Fenatran). O projeto é totalmente brasileiro e conta com bateria da JLW. Trata-se de um caminhão destinado a entregas de mercadorias nos grandes centros urbanos, que está agora em fase de homologação. Infelizmente nós temos aqui no Brasil as questões burocráticas e também das altas cargas tributárias, que seguram um pouco todas essas inovações, mas o projeto está bem avançado e é um veículo que tem chamado muita atenção do mercado. Os testes foram realizados tanto aqui no Brasil quanto no México e na Alemanha e hoje estão sendo montados mais cinco protótipos do veículo.

Como se deu o contato entre a Man e a JLW para esse projeto?

Waldmann – A montadora estava procurando uma empresa que tivesse conhecimento sobre veículos elétricos. Eles entraram em contato então com a Eletra, fabricante de trólebus que fica em São Bernardo do Campo (SP). E como nós somos parceiros dessa companhia, passamos a fazer parte do projeto também, no segundo trimestre do ano passado, fornecendo a bateria de lítio. Nós estamos envolvidos ainda em trabalhos com automóveis elétricos.

Existem algumas empresas desenvolvendo esses veículos no Brasil, e eles devem surgir a qualquer instante. São desde carros de passeio até veículos para uso interno em condomínios, por exemplo, e nós somos parceiros desses projetos.

Nós temos no Brasil uma frota bastante antiga de caminhões. Diante disso, não podemos esperar que o país adote rapidamente os veículos elétricos, correto?

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Waldmann – Realmente, a idade média dos caminhões no Brasil é bem alta, e temos até mesmo outros automóveis nessas condições. Sem dúvidas a entrada de qualquer novo tipo de veículo no nosso mercado vai ser lenta, e existe, por exemplo, a questão da infraestrutura do país para viabilizar o uso dos veículos elétricos, mas é um caminho inevitável. Hoje se gasta mais energia elétrica para produzir combustíveis derivados do petróleo do que se gastaria para garantir a locomoção de veículos elétricos. Então é uma mudança que vai acontecer. E as baterias de lítio têm um papel muito importante nisso, pois elas consomem muito menos energia para serem carregadas do que as baterias de chumbo-ácido. A economia de energia elétrica com essas baterias gira em torno de 45%.

Quando você cita infraestrutura, está falando sobre pontos de abastecimento?

Waldmann – Sim. É possível montar sistemas de bateria que dão ao caminhão a autonomia necessária para certas viagens, desde que você saiba exatamente a distância que ele vai percorrer. Então se um caminhão vai rodar, digamos, 100 km por dia, a bateria é feita com essa autonomia, e o tamanho dela está diretamente ligado a essa autonomia. Nesse caso, o veículo é abastecido somente na estrutura da própria empresa.

Mas é claro que só isso não é suficiente e que é necessário contar com pontos de abastecimento. Já existem alguns pontos, mas ainda são poucos. Isso precisa ser alavancado e a quantidade deve crescer naturalmente conforme for havendo mais veículos elétricos nas ruas. Ainda não há uma regulamentação a respeito disso, então os lugares que oferecem o carregamento nem cobram pela energia por enquanto. Existem leis que estão para sair do papel, mas no Brasil essa parte é sempre bastante lenta. Porém, se o futuro demandar isso, os próprios postos de gasolina terão que se adaptar e oferecer pontos de carregamento de energia.

No setor de empilhadeiras já existe uma demanda grande pelas baterias de lítio?

Waldmann – No Brasil, em qualquer segmento, as pessoas precisam ver para crer. Já existem projetos em andamento, empresas testando e optando pela compra de equipamentos movidos a baterias de lítio, então já há, sim, no país, certo volume de máquinas utilizando essa tecnologia. O crescimento desse mercado vai depender muito do sucesso dessas empresas que já estão utilizando, e para alguns tipos de operações, a bateria de lítio é muito eficiente. A de chumbo-ácido não vai deixar de ser utilizada, é claro, mas existem aplicações em que a bateria de lítio faz todo o sentido, por vários fatores, como o maior aproveitamento energético, a eliminação de grandes espaços dedicados ao carregamento, entre outras coisas.

É um mercado que vai crescer ao longo do tempo, eu acredito que entre 10% e 20% ao ano. Não é uma página que simplesmente é virada e então tudo está mudado, mas sim uma mudança gradual, um caminho longo a ser percorrido. E a JLW já está se preparando para ser pioneira e atender esse mercado conforme ele vai amadurecendo. Nós estamos apostando nisso, mas não estamos nos baseando somente em uma aposta. Como eu já disse, o mercado de ônibus elétricos, por exemplo, já é uma realidade.

E o descarte dessas baterias? O Brasil está preparado para lidar com isso?

Waldmann – Na verdade existe uma confusão nesse aspecto com as baterias de chumbo-ácido, que são de descarte mais difícil. As baterias de lítio são 100% recicláveis. Os minerais utilizados na sua confecção não são poluentes, enquanto o descarte incorreto do chumbo-ácido é bastante prejudicial para o meio ambiente. E a bateria de lítio é utilizada de oito a dez anos e depois não é sucateada. Ela pode ser reaproveitada para o armazenamento de energia por mais 20, 25 anos. Então a vida útil dessas baterias está na casa dos 30 anos.

O governo brasileiro tem se manifestado como um incentivador da adoção dessa nova tecnologia?

Waldmann – O governo é movido por interesses próprios, mas a propulsão elétrica é uma tendência mundial, então não tem como fugir disso. O mundo todo está investindo nesses novos mecanismos de locomoção. Existem até mesmo projetos de aviões elétricos em andamento. A mudança vai acontecer de uma maneira ou de outra, e o Brasil historicamente demora mais para se adaptar e absorver, mas tudo isso faz parte da evolução dos veículos e das máquinas.

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