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IA no Desenho de Malha Logística: Do Potencial ao Uso Real em Projetos Avançados de SCND

Por Cauê Guazzelli e Isabel Campeão em 11 de dezembro de 2025 às 10h09
Cauê Guazzelli
Cauê Guazzelli, Sócio-fundador e diretor da INPO
Isabel Campeão
Isabel Campeão, analista de marketing na INPO

A Inteligência Artificial (IA) têm sido apontada como uma das tecnologias mais transformadoras da logística moderna. No entanto, apesar da popularização de chatbots e ferramentas generativas, ainda persiste a dúvida: a IA está realmente pronta para desenhar a malha logística do Brasil?

Este artigo discute essa questão a partir de fundamentos teóricos, limitações práticas e, sobretudo, resultados já aplicados no desenvolvimento de modelos híbridos, que combinam otimização matemática e redes neurais artificiais para o desenho de redes logísticas (SCND — Supply Chain Network Design).

 

Além dos Chatbots: O que é IA e o que ela Pode Fazer na Logística

A Inteligência Artificial corresponde à capacidade de máquinas aprenderem padrões a partir de dados históricos ou simulados. Embora tenha se tornado mais visível por meio de interfaces conversacionais, sua contribuição real na logística está na habilidade de:

  • realizar previsões complexas,
  • analisar e encontrar padrões a partir de grandes volumes de dados,
  • simular milhares de cenários em segundos,
  • encontrar soluções que o analista humano não vê intuitivamente.

Diferentemente da ideia de “robôs que pensam sozinhos”, a IA na logística atua como um acelerador de inteligência humana, ampliando o alcance da análise, reduzindo esforço manual e aumentando a precisão das decisões.

Entretanto, vale destacar: IA sem bons dados, sem especialistas e sem contexto local pode gerar resultados ruins, exatamente como chatbots fornecem respostas equivocadas quando recebem instruções mal formuladas.

 

Onde a IA Realmente Agrega no Planejamento Logístico?

As principais contribuições da IA no planejamento de redes incluem:

  • Tratamento e clusterização de dados para entender padrões logísticos;
  • Redes neurais para classificar, prever ou direcionar modelos complexos a buscarem onde existe mais oportunidade;
  • Modelos híbridos, combinando IA, simulação e otimização matemática;
  • Agilidade na construção de modelos e velocidade no processamento de cenários, permitindo tomadas de decisão que consideram uma amplitude maior de cenários.

A IA não substitui especialistas. Ela amplia a capacidade de análise quando integrada a ferramentas robustas, como o FOCS, tecnologia desenvolvida e utilizada pela INPO, totalmente personalizável para as especificidades operacionais de cada cliente.

 

O Problema Clássico de Desenho de Malha

O Supply Chain Network Design (SCND) é um dos problemas mais desafiadores da engenharia logística. Ele envolve definir:

quantas instalações abrir;
onde posicioná-las;
suas capacidades;
o tipo de operação (fábrica, CD, cross-docking, HUB etc.);
custos logísticos associados (fixos, variáveis, transporte e operação);
fluxos entre fornecedores, plantas e clientes.

Como objetivo geral, busca-se minimizar o custo total esperado da rede, respeitando restrições físicas, de demanda, de capacidade e de nível de serviço.

Por sua natureza combinatória (com bilhões de combinações possíveis), problemas de SCND são excelentes candidatos para abordagens que acelerem o processo. É aqui que a IA se torna especialmente útil.

 

O Processo Completo de Desenho de Malha: Do Problema à Decisão

O desenho de malha segue um pipeline estruturado:

  1. Delimitação do problema e nível de planejamento;
  2. Formulação matemática;
  3. Tratamento e qualificação dos dados;
  4. Obtenção e análise de soluções;
  5. Decisão estratégica baseada em resultados.

Em praticamente todas essas etapas, o conhecimento do especialista é indispensável. Porém, várias delas podem ser aceleradas ou enriquecidas com IA, especialmente no processamento de múltiplos cenários e identificação de padrões nas soluções.

 

Redes Neurais no SCND: Metodologia Aplicada no Estudo

Com base em seu doutorado, Cauê Guazzelli aplicou e avaliou três tipos de Redes Neurais Artificiais para apoiar o processo de SCND, usando como referência o problema Capacitated Fixed-Charge Facility Location (CFCFL), um dos modelos mais estudados no campo de localização de instalações.

A abordagem consistiu em:

  1. Gerar soluções alternativas (k-best) por meio de modelos de otimização.
  2. Extrair indicadores topológicos e operacionais dessas soluções, encontrando o padrão de cada operação.
  3. Treinar Redes Neurais para:
  • prever o número ideal de instalações;
  • classificar candidatos (abrir/não abrir/indefinido);
  • prever o potencial de cada candidato.

4. Usar as previsões para restringir modelos matemáticos, acelerando seu processamento.
5. Comparar desempenho entre modelos completos e restritos.

 

Principais Achados: O Que a IA Entregou de Fato

Como resultados, os modelos obtiveram:

  • Redução significativa do tempo de processamento (chegando a mais de 50% em alguns casos), permitindo a rodada de mais cenários e obtenção de mais insights
  • Manutenção da qualidade das soluções.
  • Novas formas de analisar dados logísticos, como indicadores topológicos inéditos para o problema estudado.

E esses resultados mostram que:

  • Há estabilidade nas soluções ótimas: instalações localizadas estrategicamente tendem a aparecer repetidamente.
  • Há estabilidade nas quantidade de instalações ideais em cada problema: em função de suas características operacionais, é possível encontrar o “número mágico ideal” de instalações.
  • A IA consegue capturar essas regularidades e usar para acelerar modelos de otimização.
  • O tempo total de processamento é significativamente reduzido, sem perdas relevantes na qualidade da solução.
  • Abordagens híbridas são mais eficientes do que IA isolada ou otimização pura em muitos casos.

 

Em outras palavras:

Inteligência Artificial somada à Modelagem Matemática se traduz em uma integração mais robusta para apoiar decisões estratégicas de desenho de rede.

 

Reflexão Final: A IA Está Pronta para Desenhar a Malha Logística do Brasil?

Ainda não. Ao menos, sozinha, não está.

Mas quando combinada com:

  • especialistas experientes,
  • dados confiáveis,
  • metodologias rigorosas,
  • ferramentas de otimização matemática robustas,
  • e personalização tecnológica (como a oferecida pela INPO),

a IA se torna uma alavanca poderosa para reduzir prazos, aumentar a confiabilidade das análises e viabilizar estudos antes inviáveis pelo tamanho dos dados ou complexidade.

Não estamos diante de promessas futuristas, estamos falando de aplicações reais, já em uso e cientificamente validadas.

A IA não substitui o analista. Ela amplia sua capacidade de pensar redes logísticas mais inteligentes, mais eficientes e mais alinhadas às necessidades do Brasil.

 

* Cauê Guazzelli é Sócio-fundador e diretor da INPO, PhD em Planejamento e Operação de Transportes. E-mail: caue@inpo.com.br

* Isabel Campeão é analista de marketing na INPO. E-mail: isabel@inpo.com.br

 

 

 

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