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Projeto de redes de suprimentos: método e decisão estratégica em ambientes complexos

Por Mauro Sampaio em 17 de dezembro de 2025 às 7h22
Mauro Sampaio

O projeto de redes de suprimentos deixou de ser um exercício estritamente técnico voltado à redução de custos e passou a ocupar um papel central na estratégia das empresas. Em um ambiente marcado por incerteza, volatilidade da demanda, exigência crescente por níveis elevados de serviço e múltiplos canais de atendimento, decisões sobre localização de instalações, fluxos logísticos e políticas de atendimento passaram a definir, de forma direta, a competitividade dos negócios.

Durante muitos anos, o projeto das redes de suprimentos foi conduzido com base em modelos cujo objetivo principal era minimizar custos de transporte, armazenagem, impostos e infraestrutura. Embora esses elementos continuem relevantes, essa abordagem isolada já não é suficiente para capturar os desafios atuais. Proximidade ao cliente, confiabilidade do serviço, flexibilidade operacional e resiliência da cadeia tornaram-se fatores tão importantes quanto o custo direto da operação.

 

Decisões estratégicas que vão além dos modelos

Projetos de redes de suprimentos são, por natureza, decisões estratégicas e de longo prazo. Envolvem investimentos significativos e impactam diversas áreas da organização, como logística, vendas, marketing e finanças. Além disso, parte relevante das informações necessárias para uma boa decisão não está estruturada em bases de dados, mas reside no conhecimento prático de gestores, na experiência acumulada das equipes e nas especificidades regionais dos mercados atendidos.

Quando esse conhecimento implícito não é incorporado ao processo decisório, aumentam as chances de soluções matematicamente corretas, porém pouco aderentes à realidade operacional. Por outro lado, decisões baseadas apenas em experiência e intuição estão sujeitas a vieses cognitivos e tendem a reproduzir soluções do passado, mesmo quando o contexto mudou.

O desafio, portanto, não é escolher entre modelos analíticos ou julgamento humano, mas integrar ambos de forma estruturada.

 

Visualização interativa como apoio à tomada de decisão

Nesse contexto, a visualização interativa de dados surge como um elemento-chave no apoio às decisões de projeto de redes de suprimentos. Ao transformar resultados analíticos complexos em mapas, gráficos e representações visuais intuitivas, torna-se possível compreender melhor os compromissos envolvidos e discutir alternativas de forma mais objetiva.

Projeto de redes de suprimentos: método e decisão estratégica em ambientes complexos

Foto: Reprodução / Sophus 

 

A visualização não tem como objetivo substituir o decisor, mas ampliar sua capacidade de análise. Ela reduz a percepção de “caixa-preta” dos modelos, facilita a comparação entre cenários e promove o alinhamento entre diferentes áreas da empresa. Em processos decisórios coletivos, essa base visual comum é fundamental para a construção de entendimento compartilhado e para a convergência entre interesses distintos.

 

Aprendizado, iteração e decisão

Outro aspecto relevante é que o projeto de redes de suprimentos dificilmente segue uma lógica linear. Na prática, as equipes percorrem ciclos sucessivos de análise, ajuste de hipóteses, avaliação de cenários e revisão de decisões. Ferramentas que permitem essa iteração, com feedback rápido e visualmente claro, favorecem o aprendizado organizacional e levam a decisões mais maduras.

Projeto de redes de suprimentos: método e decisão estratégica em ambientes complexos

Foto: Werner Heiber / Pixabay

Experiências em ambientes acadêmicos aplicados e em projetos reais mostram que esse tipo de abordagem contribui para decisões mais rápidas, melhor fundamentadas e com maior aceitação interna. Mais do que encontrar uma solução “ótima” do ponto de vista matemático, o objetivo passa a ser construir uma solução compreendida, defendida e executável.

 

Conclusão

O avanço no projeto de redes de suprimentos não depende apenas de modelos mais sofisticados ou maior volume de dados. Ele depende, sobretudo, da capacidade de combinar método analítico, visualização adequada e julgamento humano em um processo decisório estruturado e transparente.
Em um cenário de crescente complexidade, empresas que conseguem integrar esses elementos deixam de tratar o desenho de suas redes como um exercício pontual de custo e passam a utilizá-lo como uma verdadeira alavanca estratégica.
 
 
* Prof. Dr. Mauro Sampaio possui pós-doutorado em Supply Chain Management pelo Fisher College of Business da The Ohio State University (OSU – EUA) e pela Chalmers University of Technology (Suécia). É Doutor e Mestre em Administração de Empresas pela EAESP/FGV e Engenheiro de Produção – Materiais pela Universidade Federal de São Carlos (UFSCar). Atualmente, é Diretor do Digital Supply Chain Lab e Professor Adjunto do Departamento de Engenharia de Produção do Centro Universitário FEI, atuando de forma integrada no ensino, na pesquisa aplicada e na consultoria empresarial. Seus principais temas de interesse e atuação incluem Supply Chain Network Design, Logística e Gestão de Operações, com forte foco em métodos quantitativos, otimização e apoio à tomada de decisão baseada em dados.

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