
O GP Brasil de Fórmula 1, que aconteceu de 7 a 9 de novembro no Autódromo de Interlagos, envolveu uma logística complexa. A operação do Campeonato Mundial passa por 24 países nos cinco continentes e envolve o transporte de até 1.200 toneladas de carga de alto valor por corrida, incluindo carros, motores, pneus e equipamentos de transmissão. Uma equipe especializada de 100 profissionais de Motorsports garante a entrega das 24 etapas do calendário.
A Tecnologística foi conhecer detalhes da operação do campeonato no Brasil a convite da DHL, parceira oficial de logística da Fórmula 1. Confira os destaques dos bastidores do evento.

Operação cronometrada
O Campeonato de 2025 da Fórmula 1 começou em 14 de março com o Grande Prêmio da Austrália e termina no Grande Prêmio de Abu Dhabi, de 5 a 7 de dezembro. Durante o evento, são transportadas até 1.200 toneladas de material de circuito para circuito, percorrendo cerca de 133 mil quilômetros de distância aérea, o que equivale a aproximadamente 10 vezes o diâmetro do planeta Terra. O Brasil é o 21º país a receber os equipamentos.
"A DHL basicamente transporta tudo menos o circuito. Trazemos tudo para tornar o evento operante. Dos equipamentos da equipe de corrida aos carros, passando todas as necessidades das equipes, catering e hospitalidade, equipamentos do paddock e das equipes VIP, equipamentos para equipes de TV internacionais, e equipamento de TV interno e infraestrutura da F1", comenta Simon Price, Events Manager da DHL Motorsports, equipe da DHL Global Forwarding dedicada à supervisão das operações da Fórmula 1.
Os materiais começaram a chegar ao autódromo numa operação multimodal que inclui transporte marítimo, aéreo e rodoviário. Este ano, o transporte marítimo ganhou destaque maior na operação, levando cerca de 180 contêineres de equipamentos, um aumento em relação aos 130 de anos anteriores. A decisão é uma tentativa de reduzir as emissões de carbono, já que o transporte aéreo é o maior emissor de poluentes entre os dois modais. Para o transporte aéreo, foram usados 8 aviões cargueiros modelo Boeing 777.
Todos os circuitos contam com uma janela de operações estrita: as equipes de logística têm 14 dias de acesso antes da corrida e 7 dias após a corrida. Em corridas com datas próximas, os prazos da DHL precisam ser ainda mais apertados: "Temos 7 dias para entrar e 7 horas para sair", explica Simon. Os primeiros equipamentos chegaram via transporte marítimo e começaram a ser montados no local do circuito na segunda-feira da semana anterior à corrida, enquanto o material que veio pelo aéreo foi montado no fim de semana anterior à corrida.

Após a corrida no domingo, a DHL teve entre 7 e 8h para retirar e embalar todos os itens trazidos, que até esta quinta-feira seguem para a próxima cidade, Las Vegas, nos Estados Unidos. As janelas de chegada, instalação, retirada e expedição dos equipamentos são precisas. Não há tempo para atrasos na operação.
O circuito de Interlagos apresenta seus próprios desafios, por estar bem próximo ao centro de São Paulo. "De 1 a 10, São Paulo está em um nível de complexidade 8, pelo fato de que o circuito é pequeno. Estamos no limite de espaço, armazenagem, garagem. [...] A corrida em São Paulo é bem no meio da cidade, então enfrentamos engarrafamentos, o que é um desafio", comenta Christian Pollhammer, Operations Manager – Sporting da Fórmula 1.
Um dos transportes mais complexos será logo depois de Las Vegas, para o Catar, cuja corrida corrida será apenas uma semana após o circuito norte-americano. A equipe enfrenta viagens de cerca de 20 horas via modal aéreo da América do Norte para o Oriente Médio, além de um "atraso" de 11 horas devido à diferença de fuso horário. Será uma corrida contra o tempo.
A DHL também é responsável pelo transporte dos combustíveis usados nas corridas, tanto para os carros de corrida quando para os safety cars. Ao todo, são importados cerca de 50 mil litros de combustível da Europa e do Reino Unido, em torno de 1.500 litros para cada equipe, sem contar com o combustível para corridas associadas. A operação envolve licenças especiais de importação de consumíveis. Como cada equipe possui seu próprio blend proprietário de combustíveis, fruto de pesquisas confidenciais de performance para as corridas, é preciso exportar o material sobressalente após as corridas, garantindo que as amostras não sejam alvo de espionagem. A multinacional também traz para cada país combustível extra para uso nas garagens e nos geradores em caso de falta de energia.
Sustentabilidade
A Fórmula 1 tem a meta de alcançar a neutralidade de carbono (Net Zero até 2030). Para apoiar esse objetivo, a DHL está desenvolvendo e facilitando soluções logísticas multimodais sustentáveis, incorporando frete rodoviário, aéreo e marítimo.
Como parte de sua estratégia de descarbonização, a Fórmula 1 fez investimentos em Combustível de Aviação Sustentável (SAF) em 2024, por meio do serviço GoGreen Plus da DHL. O uso do SAF proporciona uma redução estimada de 80% nas emissões de carbono associadas por voo. Estima-se que, ao longo da temporada de 2024, a iniciativa tenha economizado mais de 8.000 tCO2e (toneladas de dióxido de carbono equivalente), em comparação com o uso de combustível de aviação convencional.
Além disso, a DHL opera 51 caminhões movidos a biocombustível (como HVO) na etapa europeia da temporada. Esses veículos, que incluem 14 dedicados à entrega de geradores de transição de energia renovável, alcançam, em média, uma redução de 83% nas emissões de gases de efeito estufa. Para 2025, o trabalho visa expandir essa frota para apoiar toda a comunidade F1.
A Fórmula 1 continua ajustando a ordem das corridas para melhorar o fluxo geográfico e, assim, reduzir as emissões de carbono do evento. Espera-se que no futuro o calendário possa ser mais otimizado por regiões, diminuindo o deslocamento intercontinental entre corridas. De acordo com Simon, uma das próximas medidas no plano da empresa será no futuro a criação de service centers regionais para armazenagem, criando hubs regionais de operações para todos os GPs de uma determinada área.
Outro plano da DHL para o futuro é o treinamento de equipes regionais, reduzindo a necessidade do deslocamento de equipes globais especializadas para cada circuito. "Hoje temos uma pegada de cabono para fretes, e também uma pegada de carbono de pessoal, porque precisamos pegar avião e viajar. Temos bons profissionais em todos os lugares, se começarmos a treiná-los de acordo com a nossa expertise nesse nicho, podemos reduzir nossa pegada de carbono", explica.
“A Fórmula 1 tem compromissos claros de sustentabilidade e nossa parceria com a DHL é importante nesta jornada,” comenta Ellen Jones, Chefe de Sustentabilidade da Fórmula 1. “Juntos, estamos implementando soluções que reduzem nossa pegada de carbono e apoiarão a entrega do nosso compromisso Net Zero até 2030.”
Amaury Vitor, Diretor de Operações da DHL Express Brasil, ressalta que, assim como muitas tecnologias que surgiram na Fórmula 1 foram adotadas pelo transporte como um todo, como a telerimetria, os aprendizados da DHL em suas operações diárias também podem ser aplicados na logística da Fórmula 1. "O princípio da Fórmula 1 está ligado desde o início a inovação, tecnologia, rapidez, precisão, contingência, e todos essses são requerimentos da logística como um todo. As três divisões da DHL no Brasil [Express, Supply Chain e Global Forwarding] apoiam a Fórmula 1 e é uma combinação perfeita, porque no nosso dia a dia já temos as mesmas exigências", afirma.
DHL e Fórmula 1
A DHL é detentora da parceria mais duradoura da Fórmula 1, com 21 anos de colaboração com a FIA. “Temos muito orgulho dessa parceria, pois esse compromisso reflete a expertise que nos permite apoiar o esporte com a logística ininterrupta necessária para um evento global tão prestigiado, ao mesmo tempo em que avançamos em nossos objetivos compartilhados de sustentabilidade através de soluções logísticas inovadoras,” afirma Arjan Sissing, Chefe de Marketing de Marca do Grupo DHL.
“A operação brasileira desempenha um papel importante dentro da nossa rede global, especialmente no modal terrestre, fundamental para eficiência e redução de emissões. Estamos comprometidos em ampliar soluções sustentáveis e garantir uma logística ágil e confiável para apoiar a temporada da Fórmula 1.” afirma Amaury Vitor, Diretor de Operações Ground da DHL Express Brasil.