A imposição de tarifas de 50% sobre produtos brasileiros pelos Estados Unidos reacendeu o debate sobre a infraestrutura logística nacional e a necessidade de adaptação estratégica diante das novas dinâmicas do comércio internacional. A avaliação foi feita por representantes do setor produtivo durante o segundo encontro da série “Logística no Brasil”, promovido pelo Valor Econômico com apoio da Infra S.A. e do Ministério dos Transportes, nesta quarta-feira (30), na sede da Fiesp, em São Paulo.
Durante o evento, foi apontado que o atual cenário geopolítico exige a reestruturação do plano logístico nacional com foco em rotas alternativas para a América do Sul e para a Ásia, além de maior eficiência no escoamento interno de cargas por meio de sistemas integrados de transporte. Os participantes destacaram que o avanço das tarifas deve ser enfrentado com diversificação de modais logísticos e ampliação da infraestrutura de transporte de longo curso.
Venilton Tadini, presidente executivo da Associação Brasileira da Infraestrutura e Indústrias de Base (Abdib), afirmou que os investimentos em infraestrutura atingiram R$ 260 bilhões em 2024, com expectativa de crescimento para R$ 280 bilhões em 2025. Segundo ele, a priorização de setores estratégicos — como ferrovias de carga geral — deve considerar o tipo de produto transportado. Tadini também criticou a distribuição do orçamento federal, destacando o volume de R$ 50 bilhões destinados a emendas parlamentares, em contraste com os R$ 20 bilhões no orçamento executivo.
Jorge Bastos, diretor-presidente da Infra S.A., defendeu a interligação ferroviária com portos e destacou a importância da integração com países sul-americanos como resposta às novas tarifas impostas. “Temos que trabalhar com as ferrovias para trazer produto agregado, interligando com outros portos”, afirmou.
Para José Rebelo, presidente da Associação Brasileira de Armazenagem e Infraestrutura (Abani), a estrutura ferroviária brasileira voltada ao escoamento de cargas agrícolas ainda é insuficiente. Ele avaliou que o país já possui soluções para longas distâncias, mas carece de previsibilidade logística para atrair investidores. “A produção vai sair. Temos que trabalhar para que ela saia da melhor maneira”, afirmou.
O presidente da Confederação Nacional do Transporte (CNT), Vander Costa, reiterou a necessidade de ampliar a multimodalidade no país. Segundo ele, o crescimento da economia brasileira exige investimentos públicos e privados na diversificação dos modais de transporte. Costa também destacou o potencial das hidrovias, que oferecem vantagens operacionais e ambientais no curto prazo.
A situação do Porto de Santos foi abordada pelo presidente da Autoridade Portuária de Santos, Anderson Pomini, que criticou a dependência da rodovia Anchieta e a lentidão nos investimentos para a ampliação da capacidade do terminal. O porto movimenta cerca de 180 milhões de toneladas por ano e, segundo Pomini, enfrenta gargalos que comprometem sua competitividade. “Planejamento não está entre as principais qualidades do Brasil. O porto precisa de áreas para exportar e importar suas cargas”, declarou. Ele defendeu a ampliação dos modais logísticos com foco na previsão de crescimento do agronegócio, estimado em 20% ao ano.
O evento reforçou o diagnóstico de que o Brasil, diante do novo cenário comercial, precisa direcionar recursos para a estruturação de uma rede logística integrada, conectando ferrovias, hidrovias, rodovias e portos, com foco na redução de custos operacionais e no aumento da competitividade internacional. A estimativa atual é de que o país possa atingir até R$ 700 bilhões em investimentos em infraestrutura nos próximos quatro anos, embora ainda haja uma lacuna de aproximadamente R$ 400 bilhões para alcançar as metas traçadas pelas entidades setoriais.