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Agilidade como regra: a transformação dos centros de distribuição

Transformação tecnológica e foco em eficiência redefinem o papel dos CDs brasileiros, que passam de espaços de armazenagem a hubs de inteligência e velocidade
Por Omar Passos em 7 de outubro de 2025 às 7h49
Omar Passos
Omar Omar Passos, diretor de operações da Penske Logistics

Poucos setores sentiram tanto os reflexos da mudança no comportamento do consumidor quanto a logística. A pandemia apenas acelerou uma tendência que já estava em curso desde a popularização das plataformas de comércio eletrônico: a busca por entregas mais rápidas. Se antes era aceitável esperar alguns dias, hoje a expectativa é de quase imediatismo.

Essa transformação impôs um novo papel aos centros de distribuição (CDs) brasileiros, que atendem aos mais diversos segmentos. Mais do que meros espaços de armazenagem, esses locais se tornaram hubs de inteligência e velocidade, fundamentais para que as empresas acompanhem os novos hábitos de consumo.

Segundo pesquisa realizada pela consultoria Radial em 2025, 72% dos consumidores afirmam priorizar velocidade e confiabilidade na entrega ao decidir de qual marca comprar — acima de fatores como preço ou exclusividade do produto.

Esse movimento extrapolou o consumo e chegou às operações industriais, em que cada atraso pode comprometer linhas de produção inteiras. A resposta a essa demanda exigiu revisão de processos, uso de value stream mapping (VSM) — ferramenta visual que representa todos os fluxos de um processo —, além de automação e digitalização de etapas críticas.
Não é mais possível atuar de forma reativa: cada vez mais, é mandatório antecipar imprevistos e ter planos efetivos de contingência para que a cadeia de suprimentos continue operando de maneira fluida.

 

Tecnologia como alavanca

A transformação dos CDs se deu a partir da massificação da tecnologia. Ferramentas de roteirização baseadas em histórico de entregas aumentaram a eficiência dos prazos, enquanto sistemas de monitoramento em tempo real se tornaram essenciais para prever gargalos e antecipar correções.

Recursos como o voice picking — sistema de separação de produtos que usa comandos de voz para orientar os colaboradores dentro dos armazéns — aceleraram as operações de coleta. Já as soluções de organização inteligente de estoques, baseadas na curva ABC de vendas, reduziram deslocamentos e garantiram maior aderência ao perfil de vendas dos clientes.

Todas essas inovações trouxeram ganhos de velocidade, precisão e confiabilidade.

 

O espaço físico mudou

Não foi apenas a digitalização que transformou os CDs. A estrutura física também precisou ser repensada. A verticalização de estoques, por exemplo, tornou-se uma alternativa importante, considerando aspectos como perfil de embalagem, serviços agregados e giro de estoque.

Quando esse modelo não é aplicável à atividade de determinado cliente, o cross-docking se mostra uma excelente alternativa. Na indústria automotiva, por exemplo, fluxos inteligentes podem ser criados por meio da definição de janelas fixas de recebimento, garantindo maior previsibilidade.

Outro ponto relevante é a revisão constante de layout. Adaptar a estrutura de acordo com a curva ABC e investir em equipamentos modernos, adequados para diferentes tipos de movimentação, traz ganhos significativos de velocidade e eficiência.

 

Pessoas no centro da mudança

Nenhuma dessas transformações seria possível sem as pessoas. A logística continua dependendo essencialmente do fator humano. Treinamento e desenvolvimento são cruciais para que os times possam lidar com novas tecnologias e extrair o máximo dos recursos disponíveis.

Capacitar colaboradores para operar coletores de dados, empilhadeiras automatizadas ou sistemas de gestão avançados é determinante para manter a agilidade conquistada pelas soluções digitais.

 

O desafio de equilibrar custos e velocidade

É fato que a automatização ainda custa caro. Investimentos em tecnologia precisam ser analisados caso a caso, considerando o volume da operação e o retorno esperado. Ao mesmo tempo, os ganhos de velocidade e confiabilidade proporcionados por soluções tecnológicas são cada vez mais essenciais para manter a competitividade em um mercado volátil e pressionado por revisões de despesas.

Ferramentas de inteligência artificial aplicadas à roteirização, à integração entre modais e ao uso de sistemas preditivos devem acelerar ainda mais a eficiência do transporte de cargas nos próximos anos.

 

O futuro já chegou

O consumidor, acostumado a receber suas compras em 24 horas ou até no mesmo dia, dita os novos prazos de todos os setores da economia — tanto no B2C quanto no B2B. As indústrias, que trabalham com estoques cada vez mais enxutos, dependem de entregas sincronizadamente ágeis para manter a produção em andamento.

Velocidade e confiabilidade deixaram de ser diferenciais e se consolidaram como requisitos básicos. O desafio agora é equilibrar custo, agilidade e sustentabilidade, com a tecnologia exercendo um papel central nessa equação.

O futuro já é realidade nos centros de distribuição brasileiros. Inteligência, flexibilidade e conexão ditarão as próximas transformações nos espaços de armazenagem e distribuição de mercadorias — sempre pautadas por um princípio inegociável da cadeia de suprimentos moderna: a capacidade de adaptação às necessidades de cada cliente.

 

* Omar Passos é diretor de operações da Penske Logistics

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