
Os custos logísticos continuam sendo o principal obstáculo às exportações brasileiras, segundo levantamento divulgado pela Confederação Nacional da Indústria (CNI) em 9 de dezembro. A pesquisa Desafios à Competitividade das Exportações Brasileiras mostra que o transporte internacional é o fator de maior impacto para 58,2% das empresas exportadoras entrevistadas. A análise inclui 50 diferentes entraves e reúne percepções de empresas que atuaram no mercado externo nos últimos dois anos.
A ineficiência dos portos aparece como o segundo maior entrave, mencionada por 48,5% dos participantes. Em seguida, surgem limitações de rotas de navegação, disponibilidade de espaço ou contêineres (47,7%) e as tarifas cobradas pelos portos (46,2%). A volatilidade cambial, apontada por 41,8%, é o primeiro item fora do campo logístico a figurar entre os maiores desafios.
De acordo com a CNI, as questões internas seguem influenciando a competitividade da indústria brasileira. A entidade afirma que o conjunto de entraves estruturais se soma a um ambiente externo marcado por tensões comerciais e mudanças nas políticas de comércio de países parceiros. Segundo o relatório, a combinação desses elementos limita a expansão da presença do Brasil em mercados de maior demanda.
Ao analisar o acesso a mercados externos, a pesquisa indica que a ausência de acordos comerciais com países de destino das exportações é o principal entrave para 25,8% das empresas. Barreiras tarifárias (22,7%) e não tarifárias (21,7%) também são apontadas com frequência, além da abrangência considerada insuficiente dos acordos vigentes (20,9%). Regulamentações ambientais e de sustentabilidade no exterior foram mencionadas por 9,7%.
Do total de empresas consultadas, 31% relatam ter enfrentado barreiras nos mercados de destino. Entre essas, 67,2% apontam as tarifas de importação como principal fator limitante. Também são citadas burocracia aduaneira (37,8%), normas técnicas (37%), medidas de defesa comercial (28,6%) e exigências sanitárias e fitossanitárias (25,2%). Os Estados Unidos e a China foram identificados como os principais países com os quais o Brasil deveria priorizar negociações de acordos de cooperação e facilitação de investimentos.
Aspectos tributários também aparecem como pontos críticos. Para 32,1% das empresas, a tributação incidente na importação de serviços usados em operações de exportação representa um entrave relevante. A pesquisa destaca ainda a complexidade de regimes especiais, dificuldades no ressarcimento de créditos tributários e baixa adesão a instrumentos como o Drawback, em razão de exigências documentais e falta de informação.
No campo regulatório, 29,1% das empresas classificam a insegurança jurídica como entrave crítico. Leis conflitantes, múltiplas interpretações e normas descentralizadas são citadas por 25% dos respondentes. Para a CNI, a simplificação regulatória é necessária para reduzir riscos e melhorar a previsibilidade das operações.
Processos burocráticos seguem entre os principais pontos de atenção. O excesso e a complexidade de documentos foram citados por 27,3% das empresas, enquanto 26% mencionaram a ausência de janela única de inspeções e 25% apontaram falta de integração entre órgãos envolvidos no comércio exterior. O relatório indica que, apesar de avanços, aumentou a percepção de criticidade desses fatores.
A comparação com a edição de 2022 mostra manutenção do transporte internacional como o maior entrave, embora em patamar um pouco inferior (60,7% em 2022, contra 58,2% em 2025). Em contrapartida, a ineficiência portuária, que ocupava a 14ª posição em 2022, avançou para a segunda colocação neste ano, com aumento significativo das menções. Já o custo do transporte doméstico apresentou melhora pontual na nova pesquisa.
A partir dos resultados, a CNI apresenta propostas para ampliar a competitividade das exportações. Entre as medidas, estão a modernização do financiamento às exportações; simplificação de regimes especiais; adoção de sistemas integrados como a Janela Única Aquaviária e o Sistema Comunitário Portuário; revisão de tarifas portuárias; conclusão da implementação do Portal Único de Comércio Exterior; fortalecimento do Programa OEA; ampliação de acordos comerciais do Mercosul; e criação de mecanismos de governança e monitoramento, como um Observatório da Competitividade das Exportações vinculado à Camex.