
O transporte rodoviário de cargas opera com volume quase 40% acima do registrado antes da pandemia, segundo a Pesquisa Mensal de Serviços (PMS) do IBGE divulgada em outubro. O aumento intensifica a circulação de mercadorias e amplia a demanda por manutenção de frotas, componentes de reposição e pneus, ao mesmo tempo em que não altera de forma proporcional o valor do frete. O cenário mantém pressão sobre custos operacionais e exige reorganização das empresas do setor logístico.
O dado do IBGE indica crescimento consistente desde 2022, com recorde histórico da série em 2023. A Federação das Empresas de Transporte de Cargas do Estado de São Paulo (FETCESP) avalia que o avanço ocorre em meio a margens reduzidas, ambiente competitivo e necessidade constante de revisão de custos. As transportadoras têm adotado ajustes operacionais, aprimoramento da gestão e ampliação de controle sobre despesas para manter equilíbrio financeiro.
Empresas do setor atribuem o aumento do volume transportado a fatores como ampliação do comércio eletrônico, retomada industrial, dinâmica do agronegócio e crescimento das exportações. A expansão de investimentos em tecnologia, rastreamento, automação, frota própria e controle de processos logísticos também contribui para sustentar o nível atual de atividade. Com predominância histórica no deslocamento de mercadorias no País, o modal rodoviário continua central na integração entre indústrias, centros de distribuição e mercados consumidores.
O movimento de recuperação já vinha sendo identificado após o período crítico da pandemia. Com maior dependência das cadeias produtivas da eficiência logística, empresas intensificaram o uso de sistemas de gestão, digitalização e estruturação de operações para melhorar disponibilidade de veículos e previsibilidade de entregas. No agronegócio, grãos, carnes e derivados seguem entre as cargas com maior volume, ao lado de bebidas e alimentos, especialmente no último trimestre do ano, quando ocorre a preparação para datas de maior consumo. Houve também aumento na movimentação de níquel e maior procura por transporte de terras raras.
Apesar do volume adicional, o valor do frete permanece sem avanço significativo. Entre os fatores estão o custo do combustível, pedágios, manutenção da frota e aquisição de pneus. Para parte das empresas, o aumento de receita vem da ampliação do volume carregado, fidelização de clientes e uso de veículos com maior capacidade.
O crescimento da movimentação intensifica o desgaste da frota e eleva a necessidade de manutenção preventiva. Estimativas apontam que a cada 10% de crescimento no volume de cargas há aumento entre 6% e 8% no consumo de peças e pneus, sobretudo em operações que utilizam frota própria. O uso de dados e sistemas de monitoramento tem se tornado um recurso recorrente para reduzir pausas não programadas, controlar custos e garantir disponibilidade de veículos.
A escassez de motoristas permanece como um dos principais desafios do transporte rodoviário. Entidades do setor, como SEST SENAT e sindicatos regionais, concentram iniciativas para formação e requalificação de profissionais. Transportadoras também estruturam programas internos de capacitação, melhoria das condições de trabalho e definição de planos de carreira com o objetivo de atrair e reter mão de obra.
Para 2026, as empresas projetam um ano de ajustes operacionais e adaptação às mudanças trazidas pela Reforma Tributária. O setor prevê necessidade de maior rigor técnico na gestão, análise contínua de custos e participação mais ativa em discussões promovidas por federações e sindicatos. Investimentos em tecnologia, capacitação de motoristas e expansão de estruturas de armazenagem seguem no planejamento das companhias, que buscam manter competitividade em um ambiente de transformação logística.