A ampliação e a implantação de novos portos em Santa Catarina colocam o setor logístico do estado diante da necessidade de investir R$ 57 bilhões em infraestrutura de transportes até 2029, segundo levantamento da Federação das Indústrias do Estado de Santa Catarina (Fiesc). O volume de recursos é considerado necessário para adequar rodovias, acessos portuários e canais de navegação ao aumento projetado da movimentação de cargas.
O cenário é impulsionado principalmente pela expansão da infraestrutura portuária no Norte catarinense. Está previsto para 2030 o início das operações do oitavo porto do estado, o Terminal de Uso Privado (TUP) Coamo, com investimento estimado em R$ 3 bilhões. O empreendimento se soma a projetos em andamento, como o alargamento e aprofundamento do canal de acesso à Baía da Babitonga e a ampliação dos portos de Itapoá e São Francisco do Sul.
De acordo com a Fiesc, do total de R$ 57 bilhões necessários até 2029, R$ 40,2 bilhões deverão ser direcionados ao transporte rodoviário, modal responsável pela maior parte do escoamento de cargas que acessam os terminais portuários. A entidade aponta ainda que a iniciativa privada deverá responder por R$ 42,6 bilhões do total previsto para investimentos em infraestrutura de transportes no estado.
Entre os aportes projetados estão obras diretamente relacionadas à ampliação de portos, além de parcerias público-privadas voltadas à dragagem e ao aprofundamento de canais de acesso, com destaque para a Baía da Babitonga, que concentra parte relevante da movimentação portuária catarinense.
A dragagem da Baía da Babitonga conta com investimento de R$ 333 milhões em uma parceria público-privada envolvendo os portos de São Francisco do Sul e Itapoá. A intervenção prevê o aprofundamento do canal de acesso de 14 para 16 metros, permitindo a operação de navios de maior porte. Com a conclusão da obra, o complexo portuário passará a receber embarcações de até 366 metros de comprimento com carga máxima.
O material retirado durante a dragagem está sendo utilizado no engordamento das praias de Itapoá, em uma intervenção que abrange cerca de oito quilômetros do litoral e envolve aproximadamente seis milhões de metros cúbicos de sedimentos. As obras de dragagem alcançaram 43,7% de execução, enquanto a ampliação da faixa de areia ultrapassou metade do volume previsto.
O novo Terminal de Uso Privado Coamo será instalado próximo ao Porto de Itapoá e tem como objetivo atender ao escoamento da produção agrícola do Sul do Brasil. O terminal deverá operar com granéis sólidos e líquidos, incluindo soja, milho, fertilizantes e derivados de petróleo, como GLP. A capacidade estimada é de 11 milhões de toneladas por ano.
Estudos de impacto indicam que, após dez anos de operação plena, o terminal deverá gerar um fluxo diário de aproximadamente 835 veículos pesados, com acesso principal pela via José Alves. Avaliações técnicas apontam que as vias José Alves, SC-416 e SC-417 possuem capacidade física para absorver o aumento do tráfego, sendo identificados desafios de natureza operacional relacionados à circulação local.
Como parte das medidas previstas, será construída uma rotatória no acesso direto ao empreendimento, além da implantação de sinalização viária. Também estão previstas ações de orientação voltadas a trabalhadores e caminhoneiros, com foco na organização do fluxo e na condução dos veículos na região.
Outro eixo relevante da expansão logística está no Porto de São Francisco do Sul, que completou 70 anos em 2025. Para o terminal, foram anunciados mais de R$ 40 milhões em investimentos. O pacote inclui a construção da terceira faixa da BR-280, com aporte de R$ 12,5 milhões, a recuperação do Berço 201, orçada em R$ 18 milhões, e a implantação de um sistema de despoeiramento no corredor de exportação, no valor de R$ 11 milhões.
As intervenções têm como objetivo ampliar a capacidade de acesso terrestre, melhorar as condições de atracação de navios e reduzir a emissão de partículas durante a movimentação de grãos. Localizado na Baía da Babitonga, o Porto de São Francisco do Sul responde por cerca de 80% das exportações de soja de Santa Catarina e por aproximadamente metade do aço importado no Brasil, figurando entre os dez principais portos do país em movimentação de carga geral.
No diagnóstico sobre gargalos logísticos, a Fiesc elencou obras consideradas prioritárias para sustentar o crescimento da atividade portuária e industrial no estado. Entre as intervenções destacadas estão a conclusão da duplicação das rodovias federais BR-280 e BR-470, apontadas como estratégicas para o escoamento de cargas.
O levantamento também indica a necessidade de manutenção contínua das rodovias federais, a adequação de capacidade das BR-282 e BR-163 e a conclusão das obras da BR-285. No setor portuário, são considerados prioritários os investimentos na segunda etapa da bacia de evolução e do canal de acesso ao complexo portuário de Itajaí, a recuperação e ampliação dos molhes do Porto de Imbituba e o aprofundamento do canal de acesso à Baía da Babitonga por meio de parcerias público-privadas.
