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BNDES finaliza negociação para financiamento de renovação de frota com biometano

Primeiro contrato com recursos do Fundo Clima pode viabilizar substituição do diesel por combustível renovável no transporte de cargas
Por Redação em 24 de julho de 2025 às 7h58
BNDES finaliza negociação para financiamento de renovação de frota com biometano
Foto: Divulgação
Foto: Divulgação

O Banco Nacional de Desenvolvimento Econômico e Social (BNDES) está concluindo as negociações para o primeiro contrato de renovação de frota de caminhões com uso de recursos do Fundo Clima. O objetivo da iniciativa é financiar veículos movidos a biometano, com taxas de juros reduzidas, como parte da estratégia nacional de descarbonização no setor de transporte de cargas.

O conteúdo do contrato ainda não foi divulgado, mas o banco considera o avanço como um passo relevante na adoção de combustíveis menos emissores no modal rodoviário. A diretora de Infraestrutura e Mudança Climática do BNDES, Luciana Costa, afirma que o Brasil tem potencial para substituir 62% do consumo nacional de diesel com a produção de biometano, a partir de resíduos agroindustriais como vinhaça, dejetos suínos e bovinos.

A inclusão do biometano no Plano Anual de Aplicação de recursos do Fundo Clima foi formalizada nesta semana. O fundo dispõe de R$ 11,2 bilhões para empréstimos com juros de 6,5% ao ano, acrescidos de 1,3% de taxa administrativa do BNDES. A medida viabiliza o financiamento de frotas movidas a biocombustível.

A tecnologia de biometano ainda tem presença limitada no Brasil, sendo utilizada principalmente por produtores do próprio combustível ou por grandes empresas que buscam reduzir emissões em suas operações. A Natura, por exemplo, iniciou em 2024 o uso do combustível em 20 veículos e 50 carretas em São Paulo. A empresa aprovou a expansão para a unidade de Cajamar (SP), tanto no transporte quanto nos processos industriais, e firmou um novo contrato com a Ultragaz, com início previsto para agosto, para abastecer a rota até Uberlândia (MG).

Segundo a companhia, o uso do biometano permitiu a redução de 930 toneladas de dióxido de carbono nas operações. O diretor de Supply Chain, Eduardo Sá, afirma que o objetivo principal da iniciativa é a mitigação de emissões, e não a obtenção de retorno financeiro direto.

De acordo com dados da Associação Nacional dos Fabricantes de Veículos Automotores (Anfavea), foram emplacados 356 caminhões a gás no primeiro semestre de 2025, superando o total registrado em todo o ano anterior. A fabricante Scania prevê a produção de 800 unidades em 2025, o equivalente ao volume produzido entre 2019 e 2022. O diretor de Vendas e Soluções da empresa, Alex Nucci, aponta o biometano como uma alternativa com alto potencial ao diesel.

A cadeia produtiva também registra impactos. A empresa MAT, fabricante de cilindros de gás natural em Jundiaí (SP), observou crescimento na demanda por cilindros para veículos pesados, que passaram de 2,5% para 12% da produção entre 2022 e o segundo trimestre de 2025. A expectativa da empresa é que, até 2026, esse segmento represente 50% da produção.

Segundo a empresa Gás Verde, responsável por abastecer com biometano o centro de distribuição da L’Oréal em Jarinu (SP), o modal rodoviário responde por 60% da carga transportada no Brasil e utiliza majoritariamente diesel, combustível responsável por aproximadamente 15% das emissões de gases de efeito estufa do país. Estima-se que o biometano emita até 90% menos CO₂ em comparação ao diesel.

Além dos ganhos ambientais, o biometano apresenta vantagens econômicas, como maior previsibilidade de preços. Os contratos são, em geral, corrigidos pelo IPCA e não seguem a cotação internacional do petróleo. Alessandro Gardemann, presidente da empresa Geo bio gas&carbon, destaca a possibilidade de produção descentralizada como diferencial logístico relevante, ao reduzir a dependência da rede de distribuição de gás natural.

Atualmente, há 12 produtores de biometano autorizados pela Agência Nacional do Petróleo, Gás Natural e Biocombustíveis (ANP), com outros 39 pedidos de autorização em análise. A produção média nacional está em 800 mil metros cúbicos por dia.

A presidente da Associação Brasileira do Biogás e Biometano (Abiogás), Renata Isfer, avalia que a Lei do Combustível do Futuro deve ampliar a oferta nos próximos anos, ao estabelecer contratos de longo prazo entre produtores e compradores. A lei cria cotas obrigatórias de aquisição de biometano por empresas produtoras de gás natural, em modelo semelhante ao que estruturou os mercados de etanol e biodiesel no Brasil. A Petrobras realizou, neste contexto, sua primeira chamada pública para aquisição da cota referente a 2026.

Apesar dos avanços, a infraestrutura de abastecimento ainda é considerada um entrave para a adoção do biometano em rotas de longa distância. A autonomia de caminhões a gás é limitada a cerca de 700 quilômetros, e há poucos postos preparados para esse tipo de abastecimento.

Para a diretora do BNDES, a expansão da tecnologia exige investimentos em três frentes: produção do combustível, infraestrutura de abastecimento e substituição da frota a diesel. Segundo ela, esse movimento já está em curso.

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