Inteligência Artificial amplia o alcance da inovação aberta no setor logístico

Nos últimos anos, o modelo de inovação aberta tem se consolidado no setor de logística no Brasil como uma alternativa para empresas que buscam soluções direcionadas às suas demandas operacionais. Esse modelo permite que grandes corporações colaborem com startups para acelerar a adoção de tecnologias e melhorar processos internos, superando limitações das abordagens tradicionais de inovação.

Historicamente, a busca por startups para programas de inovação aberta baseava-se em redes de relacionamento restritas e ferramentas convencionais de pesquisa. Esse processo impunha barreiras ao acesso a empresas emergentes fora dos grandes centros tecnológicos ou localizadas em outros países, o que limitava o potencial de inovação disponível para grandes empresas. De acordo com Daniel Mendes, CEO e fundador da Dataholics, esse cenário começa a se transformar com o uso de inteligência artificial.

Segundo Mendes, a Gen.OI — plataforma desenvolvida pela Dataholics — utiliza IA generativa para mapear e analisar um banco de dados global de startups, eliminando vieses geográficos e relacionais na seleção de soluções. A ferramenta cruza dados específicos das áreas internas das empresas com o estágio de desenvolvimento e as competências técnicas das startups, permitindo identificar aquelas com maior aderência às demandas apresentadas. A automatização do processo torna a busca mais rápida e menos onerosa do que os métodos convencionais.

A inserção de startups no mercado de logística ainda enfrenta entraves significativos. Uma das dificuldades está na resistência à adoção de novas tecnologias por parte de empresas do setor. A IA atua como facilitadora ao conectar startups diretamente às organizações que enfrentam problemas concretos, otimizando o processo de aproximação entre oferta e demanda de soluções tecnológicas.

O setor logístico brasileiro vem passando por um processo de digitalização mais intenso desde 2019. A busca por resultados concretos impulsiona a adoção de tecnologias que ampliem a eficiência e contribuam para atender exigências regulatórias e ambientais. A IA generativa tem sido utilizada para realizar diagnósticos internos detalhados nas empresas, promovendo a identificação de soluções específicas em tempo reduzido. Mendes afirma que, sem essa tecnologia, seria necessário um esforço humano elevado para realizar as mesmas correlações.

Além da identificação de startups, a IA pode ser aplicada na melhoria de processos logísticos. No Brasil, onde predomina o transporte rodoviário e há deficiências estruturais na malha viária, soluções orientadas por dados têm potencial para aumentar a eficiência da cadeia logística. Um exemplo mencionado por Mendes é o uso da IA para otimizar o carregamento de caminhões, reduzindo a incidência de veículos circulando vazios. Com isso, é possível diminuir custos operacionais e emissões de gases.

A Gen.OI também atua na identificação de gaps tecnológicos. Mendes aponta setores como ferroviário e naval entre os que apresentam maior potencial de inovação. No ferroviário, destaca-se a demanda por soluções voltadas à organização de armazéns e à redução de perdas operacionais. No setor naval, há espaço para automação de processos como a checagem de contêineres e a mitigação de emissões oriundas de combustíveis fósseis.

Esses desafios representam oportunidades tanto para startups nacionais quanto estrangeiras. A plataforma busca conectar empresas consolidadas no setor logístico a startups que desenvolvem tecnologias aplicáveis, mesmo que ainda não estejam inseridas em ecossistemas tradicionais de inovação.

Para os próximos cinco a dez anos, espera-se um aumento significativo na adoção de tecnologias digitais no setor logístico brasileiro, com ênfase nos modais rodoviário e portuário. A automação e o uso de inteligência artificial devem alterar a dinâmica operacional das empresas, promovendo maior eficiência nos processos e contribuindo para metas ambientais.

A Gen.OI se posiciona como uma ferramenta estratégica nesse cenário. A plataforma pretende viabilizar conexões mais assertivas entre grandes empresas e startups, contribuindo para a construção de um ecossistema logístico digitalmente integrado. A proposta é que a IA e o big data possam ser utilizados de forma sistemática para resolver problemas específicos do setor, reduzindo custos, aumentando a produtividade e promovendo avanços tecnológicos sustentáveis.

Mendes afirma que o modelo de inovação aberta tende a se consolidar como principal vetor de transformação digital na logística. Segundo ele, a combinação entre startups com propostas tecnológicas aplicáveis e plataformas que facilitam a conexão com empresas tradicionais pode mudar a configuração do mercado nos próximos anos.