
O polo naval de Manaus registrou faturamento de R$ 634 milhões em 2025 e consolidou sua posição como um dos principais elos da logística fluvial brasileira, impulsionado pelo aumento do transporte de grãos do Centro-Oeste para os mercados internacionais. Com 14 estaleiros em operação e mais de 2,7 mil empregos diretos, o setor acumulou expansão de 200% no faturamento entre 2020 e 2025, considerando os dados apurados entre janeiro e outubro, segundo a Superintendência da Zona Franca de Manaus (Suframa).
A expansão está associada à elevação da demanda por embarcações voltadas ao transporte de cargas e passageiros na região amazônica e ao crescimento da produção agrícola nacional. Em 2025, a safra brasileira de grãos deve alcançar 164,4 milhões de toneladas, um aumento de 13,4% em relação ao ano anterior, de acordo com dados do Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE). Parte relevante dessa produção é escoada por meio de balsas fabricadas em Manaus, que operam nos rios da região até pontos de transbordo conectados a navios de maior porte com destino à China, à Europa e à América do Norte.
A logística fluvial segue como o principal meio de transporte de grandes volumes na Amazônia, e o polo naval local responde por embarcações projetadas para operar em rios de grande extensão e com variações sazonais de nível. A localização na Zona Franca de Manaus e a especialização produtiva em embarcações adaptadas às condições hidrográficas regionais sustentam a atividade industrial do setor.
Dados da Suframa indicam que, entre janeiro e outubro de 2025, o faturamento do setor já superou em 3% o total registrado em todo o ano anterior, com projeção de encerrar o ano com crescimento de até 10% em relação a 2024. O avanço ocorre em paralelo à ampliação da metalurgia naval, embora a carpintaria continue presente na cadeia produtiva.
Os estaleiros instalados na capital amazonense produzem diferentes tipos de embarcações, incluindo barcaças para carga geral e para granéis sólidos, empurradores, rebocadores, navios de pequeno porte, portos flutuantes e diques. As barcaças destinadas ao transporte rodoviário embarcado podem levar até 35 carretas, enquanto os modelos voltados a granéis sólidos alcançam capacidade de até 3.000 toneladas por unidade, ampliando a eficiência do escoamento fluvial de cargas.
A formação de mão de obra é outro fator associado à expansão do polo. Parte dos estaleiros mantém programas de capacitação profissional, com a contratação de trabalhadores sem experiência prévia e encaminhamento para cursos de soldagem naval oferecidos pelo Serviço Nacional de Aprendizagem Industrial (Senai). O mercado local também recebe, anualmente, profissionais formados no curso de engenharia naval da Universidade Estadual do Amazonas (UEA), que abastecem a cadeia produtiva do setor.
Além do agronegócio, a demanda por embarcações voltadas à defesa, à fiscalização e à pesquisa científica também contribui para a ampliação da produção. O debate sobre transição energética no transporte fluvial abre espaço para o desenvolvimento de motores com menor emissão e para o uso de biocombustíveis, o que tende a influenciar novos projetos navais na região.
Nos últimos anos, eventos climáticos, como os períodos de seca registrados em 2023 e 2024, expuseram limitações operacionais da navegação em trechos com redução do nível dos rios. Esse cenário reforçou a necessidade de embarcações de menor calado, capazes de manter operações logísticas mesmo em condições hidrológicas adversas. A resposta a essa demanda acelerou encomendas e elevou a atividade dos estaleiros.
O desempenho do polo naval de Manaus reflete a centralidade da logística fluvial na economia amazônica e o papel da região no escoamento da produção agrícola nacional. Em 2025, o setor passou a integrar de forma mais direta a dinâmica logística do agronegócio brasileiro, ampliando sua participação na estrutura industrial do Amazonas e na movimentação de cargas pelos corredores fluviais do país.
*Com informações do Valor Econômico.