A intensificação da colheita da segunda safra de milho e a estocagem de soja nas propriedades rurais provocaram aumento nos preços do frete rodoviário em diversas regiões do país. Segundo o Boletim Logístico de julho da Companhia Nacional de Abastecimento (Conab), a maior demanda por transporte elevou os valores cobrados em estados como Mato Grosso, Mato Grosso do Sul, Goiás, Distrito Federal e Paraná, com variações que chegaram a 46% em junho.
O cenário atual resulta da produção estimada em 132 milhões de toneladas de milho na safra 2024/25, somada à retenção de parte da safra de soja por produtores que aguardam condições mais favoráveis de mercado. A Conab destaca que, com o avanço da oferta de milho e a necessidade de cumprimento de contratos já firmados, a disputa por caminhões tende a se intensificar ao longo dos meses de junho e julho.
Em Mato Grosso, responsável por 43,12% das exportações brasileiras de milho, a colheita da segunda safra estava em apenas 1% até junho, mas o mercado já apresentava sinais de aquecimento. Apesar da estabilidade momentânea dos fretes, há tendência de elevação nos preços, uma vez que toda a safra deverá ser contratada e escoada ainda neste semestre.
A divisão dos corredores logísticos entre soja não comercializada e milho colhido é apontada como um fator adicional de pressão. A Conab observa que a queda nas cotações da soja contribuiu para o adiamento das vendas, gerando competição pelo uso da infraestrutura de transporte.
No Distrito Federal, foram observadas elevações nos preços do frete em junho, com destaque para as rotas com destino a Araguari e Uberaba (MG), que subiram 5% e 4%, respectivamente. A estatal associa o movimento à maior circulação de grãos, tanto pelo escoamento da soja quanto pelo início da colheita do milho segunda safra, além da oferta limitada de caminhões.
Em Mato Grosso do Sul, as variações foram ainda mais acentuadas. A rota entre Aral Moreira e Maringá (PR) teve aumento de 46%, passando de R$ 90 para R$ 131 por tonelada. Para Paranaguá, a mesma origem apresentou alta de 31%, de R$ 200 para R$ 261. Segundo a Conab, a cautela dos produtores diante da queda nos preços da soja tem levado à comercialização gradual da produção, o que influencia diretamente a demanda por transporte. Em junho, o estado movimentou 774.292 toneladas de soja, ante 620.421 toneladas em maio.
Em Goiás, os principais trajetos com origem em Rio Verde também apresentaram elevação. A rota até Araguari (MG) subiu de R$ 117 para R$ 127 por tonelada, enquanto o trajeto até Santos (SP) passou de R$ 284 para R$ 308, alta de 9%. Apesar do aumento, o mês encerrou com menos de 10% da segunda safra de milho colhida, índice inferior aos 30% registrados no mesmo período da safra anterior. A comercialização do milho no estado chegou a 35% da produção, enquanto a soja teve 85% comercializada.
No Paraná, o comportamento dos preços de frete foi mais heterogêneo. Em Cascavel, o transporte da soja registrou alta de 24%, e em Ponta Grossa, de 9%. No entanto, o milho apresentou queda de 7% nos fretes com destino ao Rio Grande do Sul e de 11% para Paranaguá, influenciado pelas chuvas e redução na oferta de cargas.
A comercialização do milho segunda safra 2024/25 no Paraná alcança 18,9%, com apenas 12% da área colhida na região de Toledo. Em relação ao feijão da primeira safra, a colheita está finalizada, com 96,1% da produção já comercializada.
Mesmo com a redução no preço do diesel e o reajuste para baixo do piso mínimo de frete pela Agência Nacional de Transportes Terrestres (ANTT), a Conab aponta que os custos logísticos seguem pressionados por fatores estruturais. A necessidade de liberar espaço nos armazéns para o milho e o volume produzido neste ciclo agrícola sustentam os níveis atuais de preço.
O relatório conclui que o mercado de transporte deve manter preços elevados durante o segundo semestre de 2025, com impacto da demanda por escoamento da soja ainda armazenada e da nova safra de milho, tanto no mercado interno quanto nas exportações.