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Utilização dos terminais de contêineres no Brasil

Por Luiz Guilherme Cerigatto e Monica Barros em 13 de julho de 2018 às 10h29 (atualizado às 10h41)
Luiz Guilherme Cerigatto
Monica Barros

Introdução

Com o objetivo de entender como está a taxa de utilização dos terminais de contêineres no Brasil, fizemos uma análise comparando a capacidade atual declarada com a movimentação total de contêineres de todos os terminais portuários do país. Essa análise foi feita considerando dados de capacidade de 2017 e uma projeção de ocupação para os próximos dez anos.

Nossa intenção é sinalizar quais regiões precisam ampliar a capacidade de movimentação para suportar o crescimento da demanda dos próximos anos, apresentando assim oportunidades para investimentos em infraestrutura.

Sabemos que alguns terminais já têm planos de expansão. Entretanto, esses planos não estão considerados em nossa análise, por não ser possível confirmar com todos os terminais de contêineres em operação no Brasil a real intenção de executá-los. Dessa forma, optamos por realizar as análises sem considerar a expansão, gerando assim um número mais conservador.

No mundo, 17% do fluxo internacional marítimo é movimentado em contêineres, enquanto no Brasil esse número é menor, 10%, com tendência de aumento. O país tem uma capacidade de movimentação de 17,9 milhões de TEUs e movimentou aproximadamente 8,8 milhões de TEUs em 2017, o que representa 49% de utilização da sua capacidade.

A análise a ser detalhada a seguir apresenta a metodologia usada e identifica quais regiões estão ou estarão saturadas nos próximos anos. Isso é importante porque, apesar de o país ainda estar com metade da sua capacidade disponível, algumas regiões já apontam a necessidade de investimentos.

Aliás, alguns terminais já estão operando acima dos 65% de ocupação. E é sabido por benchmarks internacionais que, para manter um bom nível de serviço portuário, os terminais devem operar em torno de 65% de sua capacidade. Entre 65% e 80% é possível operar, mas isso traz uma queda no nível de serviço prestado e uma sensação de porto saturado e engargalado para os usuários.

Começamos o artigo contextualizando o crescimento da movimentação marítima de contêineres no mundo e no Brasil. Por fim, identificamos a demanda (atual e futura), a capacidade de movimentação e a taxa de utilização por região.

O crescimento do contêiner no fluxo marítimo internacional e brasileiro

O comércio marítimo internacional vem crescendo nos últimos anos, à exceção de 2009. Entre 1980 e 1995, o fluxo marítimo internacional girou em torno de 4 bilhões de toneladas e, a partir do ano 2000, houve um boom na navegação internacional, chegando, em 2015, a uma movimentação em torno de 10 bilhões de toneladas.

Utilização dos terminais de contêineres no Brasil
Figura 1 – Fonte: Conferência das Nações Unidas sobre Comércio e Desenvolvimento (Unctad), Review of Maritime Transport

O crescimento do volume movimentado ocorreu em todos os tipos de produtos. Entretanto, analisando-se especificamente a movimentação de contêineres, constata-se que houve uma mudança de patamar na última década. A nova forma de operar das indústrias, associada à maior capacidade do transporte marítimo, em decorrência de investimentos em navios e entrada de novos players, fez com que muitos produtos passassem a circular pelos mares em contêineres.

Com isso, a representatividade dos contêineres no comércio internacional teve um crescimento explosivo entre as décadas de 1980 (quando era 3% do total) e de 2010 (quando passou a representar 15% do total). Já de 2010 até os dias de hoje, o crescimento foi um pouco mais tímido, fechando 2015 com 17% do total movimentado.

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Figura 2 – Fonte: Unctad, Review of Maritime Transport. Análise: Ilos

E o Brasil? Ainda somos um país que majoritariamente movimenta granel em nossos portos. Nossa vocação agrícola e mineral fica explícita quando constatamos que 85% de tudo o que é movimentado nos portos brasileiros são granéis (sólidos, líquidos ou gasosos).

Ainda assim, a movimentação de contêineres por aqui cresce a cada ano, à exceção de 2015. Com menor volume, mas com maior valor agregado, 10% da carga brasileira foi movimentada em contêineres no ano de 2017. E a tendência é de aumento desse número.

Hoje o Brasil tem linhas com serviços regulares de importação e exportação de contêineres para todos os continentes, com escalas quase sempre semanais nos principais portos do país. Além do fluxo do comércio exterior, há ainda a cabotagem, que apresentou crescimento de dois dígitos nos últimos anos. Hoje, a cabotagem já opera em vários portos, com serviços que conectam o Brasil de Norte a Sul, passando pelo Nordeste.

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Figura 3 – Fonte: Agência Nacional de Transportes Aquaviários (Antaq). Análise: Ilos

Definição dos clusters e demanda

O Brasil tem atualmente 26 terminais portuários que movimentam contêineres. Esses terminais disputam as cargas tanto do comércio exterior quanto de cabotagem. Para identificar quais regiões estão com maior ou menor oferta de capacidade de movimentação de contêineres, utilizamos a metodologia já consagrada em trabalho anteriormente realizado pelo Instituto de Logística e Supply Chain (Ilos) para a Associação Brasileira dos Terminais de Contêineres de Uso Público (Abratec). Nessa metodologia os terminais são agrupados em clusters.

Isso é possível porque alguns terminais se comportam como um único sistema (cluster) devido a características como sua região de influência. Por estarem localizados muito próximos uns aos outros, esses terminais disputam carga entre si, tendo o mesmo raio de atuação. Além da disputa pela carga terrestre, eles também disputam a escala dos armadores (fluxo marítimo). A figura 4 identifica os 26 terminais de contêineres e seus respectivos clusters.

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Figura 4 – Fonte: Ilos

Juntos, os portos brasileiros movimentaram em 2017 aproximadamente 8,8 milhões de TEUs. O cluster Santos, composto pelos cinco terminais do porto organizado mais a Embraport, é o maior do país, com cerca de 3,4 milhões de TEUs, representando 39% do total do Brasil. O segundo maior é o cluster Sul, com 2,3 milhões de TEUs (26%). A figura 5 apresenta o histórico de movimentação dos clusters.

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Figura 5 – Fonte: Antaq. Análise: Ilos

Projeção dos volumes: demanda futura

Queríamos entender até quanto e quando cada cluster conseguiria suportar o aumento da demanda. Para isso era necessário fazer a projeção de demanda do Brasil e depois alocar essa demanda entre os sete clusters que existem no país.

Para fazer a projeção de contêineres do Brasil, selecionamos cinco indicadores macroeconômicos, tendo como fonte a Tendências Consultoria: PIB Brasil, PIB Brasil Industrial, Exportação Brasil, Importação Brasil e PIB Mundial.

Testamos a correlação desses indicadores com o volume movimentado de contêineres e identificamos para cada tipo de navegação aquele indicador que apresentava boa correlação e causalidade. Depois usamos as projeções desses indicadores macroeconômicos para estimar as quantidades futuras de movimentação de contêineres abertas por importação, exportação e cabotagem. A figura 6 apresenta as projeções por tipo de navegação.

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Figura 6 – Fonte: Antaq, Ilos. Análise: Ilos

Uma vez calculado o volume Brasil, era preciso distribuir a projeção feita entre os clusters existentes. Para tal, foi avaliado o crescimento médio anual de cada cluster entre 2004 e 2017 e, com base nesses números e no conhecimento do mercado, foi realizada a alocação do volume entre as regiões. O resultado alcançado pode ser visto na figura 7.

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Figura 7

Capacidade declarada e taxa de ocupação atual

A capacidade de cada cluster foi considerada de acordo com a capacidade dos terminais que compõem o cluster, sendo a maioria das capacidades encontradas nos próprios sites dos terminais ou via contato telefônico. Como não tivemos a confirmação dos terminais de Natal e de Pecém, nesses dois casos utilizamos os dados que constam no plano-mestre feito pelos terminais nos anos de 2013 e 2015, respectivamente. Mais uma vez, vale ressaltar que não foram considerados os investimentos futuros dos terminais nessa análise.

A figura 8 mostra a capacidade de movimentação de cada cluster, assim como o que foi movimentado em 2017 e a consequente taxa de utilização.

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Figura 8 – Fonte: Antaq, Ilos

Analisando o que movimentou cada cluster em 2017, a maior preocupação é com o cluster Manaus, que atingiu 64% de utilização. O cluster Sul também merece atenção, com 60%, seguido dos clusters Nordeste e Santos.

Cabe aqui uma observação: o fato de o cluster estar operando num nível elevado (acima de 65%) não significa que todos os terminais do cluster estejam com elevada taxa de utilização. Pode ser que um terminal esteja acima dos 70% enquanto outros estejam abaixo dos 50%.

Taxa de utilização futura

De posse da projeção de movimentação e da capacidade declarada de cada cluster, foi analisada a taxa de utilização futura, com o objetivo de entender quando cada cluster atingiria 65% e 80% de utilização.

Ao atingir 65% de utilização da capacidade no terminal, acende a luz amarela, indicando que é hora de executar o plano de expansão, que pode ser um investimento em equipamentos ou uma ampliação da infraestrutura. A luz vermelha acende, de fato, quando se trabalha acima de 80%. Isso é bastante complicado, pois a queda no nível de serviço é sentida e constatada pelos clientes. Em geral, as janelas para atracação de navios e de chegada dos caminhões ficam escassas, o terminal fica cheio e a produtividade despenca.

A figura 9 apresenta quando cada cluster deverá atingir 65% e 80% de utilização considerando a capacidade declarada atual (não levando em conta planos de expansão já aprovados ou em andamento pelos terminais). Os resultados indicam que, se nada for feito, os clusters Sul, Santos, Nordeste e Manaus atingirão 65% nos próximos cinco anos. Terminais localizados nesses clusters devem avaliar como estão suas taxas de ocupação, identificar o potencial de aumento ou captura de volume para, então, executarem seus planos de expansão.

Utilização dos terminais de contêineres no Brasil
Figura 9 – Fonte: Ilos

Conclusões

Em 2017, o Brasil operou com quase metade de sua capacidade, mas os clusters Manaus e Sul já apontam a necessidade de maior atenção com relação ao aumento da movimentação. O fato de esses clusters estarem chegando à capacidade de 65% de ocupação não significa que todos os terminais que compõem o cluster precisam fazer investimentos, mas é um sinal de alerta para que estudos de ampliação sejam realizados.

Espera-se que a movimentação de contêineres no Brasil continue crescendo nos próximos anos. Se, em 2017, o Brasil movimentou cerca de 8,8 milhões de TEUs, estima-se que 10 milhões sejam movimentados em 2019, chegando a quase 13 milhões de TEUs em 2026. Se nenhum investimento for feito, o que em nossa opinião é bem difícil de ocorrer, em 2026 o Brasil estará operando com quase 73% de taxa de utilização.

Até 2026, que foi nosso horizonte de análise, outros clusters importantes, como Santos e Nordeste, também merecerão atenção. Santos foi, é e continuará sendo o principal porto de entrada e saída de contêineres do Brasil, devido à sua localização estratégica no estado de São Paulo. Já o cluster Nordeste vem se destacando nos últimos anos, com o aumento de linhas internacionais e da cabotagem.

Como mencionamos anteriormente, esse primeiro estudo teve como objetivo analisar a taxa de utilização dos terminais do ponto de vista da capacidade declarada e, com isso, sinalizar onde há oportunidades de investimentos em infraestrutura. Sabemos que, na hora de executar planos de investimento, estudos mais completos são necessários, envolvendo também possíveis gargalos nos acessos marítimos e terrestres, além da área de armazenagem.

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