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Ampliando a expertise

Thiago Borges, diretor-geral da Rodoborges - A crise não assustou a Rodoborges, que fechou o ano de 2016 com resultados positivos e partiu para 2017 com lançamentos e novidades. O diretor-geral Thiago Borges Batista conta mais detalhes sobre a empresa, de grande tradição atuando como transportadora, que há alguns anos passou a trabalhar como operador logístico e inaugurou recentemente um empreendimento em Mairinque, no interior de São Paulo, que nasce com ociosidade para atender aos mais diversos propósitos
Por Redação em 20 de abril de 2017 às 16h06 (atualizado em 08/08/2018 às 15h34)

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Revista Tecnologística – A Rodoborges, como muitas empresas do segmento, teve origem familiar. Conte-nos um pouco sobre sua história.

Thiago Borges – Meu pai, Armando Borges, criou a Rodoborges há 20 anos. Ele atuou na multinacional Osram por 37 anos, na área de transporte, na época do boom de terceirização nas multinacionais. Essas companhias começaram a terceirizar os serviços e o presidente da Osram na época fez um convite para que ele assumisse a logística como prestador de serviços. Como ele já estava saindo da companhia, resolveu abraçar a operação de distribuição da multinacional e fundou a Rodoborges. Então a empresa nasceu para atender somente esse cliente, e já começou com o respaldo de um alicerce bastante firme, o que é o mais difícil. Com os anos, ela foi começando a criar corpo e, aos poucos, foi crescendo, não só no número de clientes, mas também em frotas e filiais. Hoje temos um grande nome no mercado e atendemos a grandes marcas.

Tecnologística – Hoje vocês são um operador logístico, certo?

Borges – Sim. De três anos para cá iniciamos um projeto para atuar com armazenagem e logística também. Isso porque começamos a perceber que alguns clientes da área de transporte também necessitavam de um leque de serviços maior, com armazenagem, nacionalização do produto, etiquetagem etc. E muitas vezes o cliente quer terceirizar totalmente sua cadeia logística. Finalizamos em dezembro de 2016 um grande empreendimento, um novo centro de distribuição na Castelo Branco, na cidade de Mairinque (SP). Ele possui uma área total de 53 mil m² e 40 mil m² de área construída. Esse CD não perde para nenhum operador logístico em estrutura, e pode atender qualquer tipo de cliente, inclusive para locação. Estamos trabalhando em algumas negociações com clientes para tentar trazê-los para esse CD.

Tecnologística – Ele funciona como uma espécie de condomínio logístico então? O espaço não será utilizado somente pela Rodoborges, mas será oferecido como locação?

Borges – O CD está montado para atender qualquer modelo de operação. Posso alugar o espaço para qualquer cliente, seja operador logístico, pessoa física ou jurídica. Ao mesmo tempo, posso usar uma parte dele como operação logística da Rodoborges. Tudo depende da demanda. Então hoje ele é um CD aberto, e eu posso tratá-lo de várias maneiras, seja locação por metro quadrado, por posição-palete ou para operação de cross-docking.

O projeto foi concebido para ser tanto um condomínio como nosso CD para operação própria. Foi feito dessa forma para que não fique engessado somente em uma operação. O local tem um estacionamento amplo, uma expedição espaçosa, um prédio de quatro andares com elevador, dá para montar diversas empresas dentro de cada andar, tem um refeitório para 80 funcionários simultâneos, tem um vestiário, casa de caminhoneiro, ou seja, está totalmente estruturado. Além disso, possui sistema de segurança com guarita blindada e 32 câmeras.

Tecnologística – O mercado de condomínios atual está superofertado. É interessante investir em espaços para locação nesse momento?

Borges – Os grandes investidores realmente deram uma brecada. Eles tiveram um boom há alguns anos, as grandes incorporadoras optaram por esse segmento, que estava numa crescente muito grande. De dois anos para cá, realmente começou a sobrar imóvel no mercado. Porém, eu não sou um desses investidores. Eu estou aplicando dinheiro no meu próprio negócio. E como sou consolidado, tenho a capacidade de oferecer, além do meu serviço, outros serviços, como o de locação para outras empresas. Dentro da cadeia de transporte, a armazenagem e a logística vêm juntas. Quando você não tem tudo que o cliente quer, pode ficar de fora de um BID, ou uma negociação, pois esse cliente não quer dividir os serviços com prestadores diferentes. Meu interesse inicial é utilizar o espaço para nossa operação, pois é onde tenho um resultado melhor, mas também temos a intenção de oferecer outras formas de serviço no empreendimento.

Tecnologística – Já existe alguma operação no CD?

Borges – Temos uma pequena operação  lá desde dezembro. Não é algo definitivo, é sazonal, mas já temos um cliente armazenando uma boa quantidade de paletes. Era um cliente nosso que precisou expandir. O CD da matriz, em Osasco (SP), também é utilizado para armazenagem, mas está praticamente com sua capacidade esgotada, então quando surgem mais serviços de armazenagem, mandamos para Mairinque.

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Tecnologística – Quais são os maiores desafios deste novo segmento que vocês estão explorando?

Borges – O primeiro é segurança. Quem tem um condomínio logístico precisa oferecer uma segurança excelente, pois está abrigando outras empresas, muitas vezes com produtos de alto valor. Outro desafio é a localização. É preciso que os empreendimentos estejam localizados na beira de grandes rodovias ou dentro do cinturão na Grande São Paulo. E por conta destes dois itens, segurança e localização, muitas empresas acabam optando pela locação, que se mostra muito atraente. A flexibilidade do aluguel é maior do que comprar o terreno e construir. Isso é muito interessante principalmente para as multinacionais, que querem transferir os serviços locais para quem tem estrutura e know-how em cada segmento.

Tecnologística – Como é oferecida a locação? Conte mais detalhes sobre a estrutura.

Borges – São módulos de, no mínimo, 1.200 m². O máximo é 20 mil m², metragem total da área de armazenagem do CD.  Ele possui pé-direito livre de 14 metros e a capacidade do piso é de 7 toneladas por m². O espaço não está verticalizado, mas já existe um projeto para 25 mil posições-palete.

Tecnologística – Conte-nos um pouco mais sobre os demais aspectos da empresa, além da estrutura física.

Borges – Os pontos em que a empresa mais investe atualmente são capacitação, qualidade e tecnologia. Para isso, contamos com três farmacêuticas para atender diversos tipos de produtos, controlados, cosméticos e correlatos. A empresa preza muito pelo treinamento, então todos os motoristas passam por uma seleção dentro do nosso departamento de Recursos Humanos, que consiste em entrevistas, testes práticos, testes de saúde e exames médicos. Realizamos treinamentos e capacitações mensais e quinzenais. Além disso, empresas terceiras vêm fazer treinamentos e alguns testes. Oferecemos bolsas de estudo para que o funcionário dê continuidade à formação, como uma faculdade e outros cursos. Nossa intenção é fazer o funcionário crescer junto com a empresa. Atualmente temos 250 funcionários diretos e os indiretos ultrapassam 400.

Tecnologística – Você comentou que um dos maiores desafios é a segurança da carga. E quanto à segurança do motorista?

Borges – Já existe uma lei na realidade, que ainda não foi homologada, para a obrigatoriedade do exame toxicológico dos motoristas. Essa lei vai ajudar muito na segurança do condutor. Infelizmente, sabemos que dentro desse segmento ainda existem muitas pessoas que abusam de substâncias, como álcool e drogas. O que a gente faz aqui para tentar inibir é oferecer orientação, dar palestras, fazer reciclagem, tentar dar todo suporte possível para o motorista, não deixando ele a mercê da estrada. Estamos sempre controlando e montando planos de viagem, ele pode parar apenas em postos autorizados pela empresa, pontos de apoio e filiais. Felizmente, a Rodoborges até hoje nunca teve um problema mais sério por conta de condutas erradas de motoristas. Acidentes acontecem nas estradas e existem coisas que estão fora do nosso controle, mas nunca tivemos um óbito de motorista, por exemplo. A segurança desse funcionário é prioritária.

Tecnologística – Como a recessão de 2016 impactou na empresa?

Borges – Para a surpresa de muitos, nós crescemos no período, em 13% na  movimentação e no faturamento. Por isso, fechamos no positivo. Esse resultado vem muito na contramão do que aconteceu no país, mas não temos um número muito elevado de clientes, e sim clientes de grande porte. São empresas multinacionais que não diminuíram de tamanho e promoveram diversas ações para enfrentar a crise. Por sermos grandes parceiros deles, estivemos sempre envolvidos nessas campanhas. Portanto, quando eles crescem, nós crescemos junto. Além disso, tivemos a adição de dois novos clientes no ano passado, o que também fortaleceu nosso faturamento.

Tecnologística – A nova estrutura de Mairinque teve algum financiamento ou investimento externo?

Borges – Sim. Nós temos um financiamento junto ao Banco Nacional de Desenvolvimento Econômico e Social (BNDES). 40% foi investimento próprio e 60% financiado. O valor total de investimento foi de R$ 30 milhões para esse empreendimento.

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Tecnologística – Existem outros investimentos previstos para 2017?

Borges – Retomamos a renovação da frota. Sempre tentamos mantê-la com uma média de três anos. Por conta da situação econômica do ano passado e dos investimentos no novo empreendimento, seguramos um pouco essa renovação. Finalizado o investimento, começamos a retomar as substituições de veículos. Em março já compramos sete. Neste ano nosso plano é diminuir a idade média da frota com a renovação de 20% dos caminhões. O mais antigo tem cinco anos, mas ainda em 2017 quero voltar para uma média 3,5 a 4 anos.

Tecnologística – Quais são os segmentos atendidos pela Rodoborges?

Borges – Atendemos os setores alimentício, automotivo, de bebidas e de cosméticos. Tudo carga seca, não trabalhamos com produtos refrigerados. Na Johnson & Johnson trabalhamos com um grande leque de produtos, desde medicamentos até fio dental. Hoje a Rodoborges é a maior transportadora na América Latina da Johnson & Johnson em volume e faturamento, então é um grande parceiro. Trabalhamos com a Nívea e a Hinode, uma empresa de cosméticos antiga, que teve um boom de três anos para cá. A ideia inicial para o novo empreendimento era que a Osram utilizasse o espaço em Mairinque, mas eles fecharam a fábrica em Osasco e foram para Embu das Artes (SP). Nós não conseguimos dar continuidade nesse BID, pois nossa obra estava um pouco atrasada e eles acabaram optando por outro operador.

Tecnologística – Qual é o diferencial da Rodoborges na comparação com operadores sem um espaço próprio?

Borges – O principal é o custo. Essas multinacionais, na maioria dos casos, não têm prédios próprios. Por conta disso, elas gastam mais do que nós. Sendo um locatário e operador, posso ganhar com o serviço e não apenas na locação. Ganho na movimentação do palete, na entrada e saída, na etiquetagem, na finalização do produto, na distribuição pela transportadora, enfim, tenho toda uma cadeia. Dessa forma, acabamos tendo um custo final menor, temos mais domínio desse custo e eu consigo trabalhar melhor. Os nossos processos não são tão engessados, então temos uma flexibilidade, uma maleabilidade interna muitas vezes maior que uma multinacional. Se você não tem espaço próprio, tem que se moldar à estrutura locada, e eu não preciso disso. Então dentro de uma negociação isso acaba pesando bastante.

Pelo fato de sermos conhecidos principalmente pelo transporte, geralmente somos procurados para atuar nesse segmento específico. Durante a negociação, oferecemos a operação logística como um todo, e já vamos com o portfolio completo. Isso facilitou muito, pois antes, quando participávamos de um BID, ficava difícil entrar em uma concorrência com um operador logístico que tinha a capacidade muito maior que a nossa. Hoje isso não acontece mais, temos um leque de serviços completo para os clientes.

Tecnologística – Você ainda se sente um transportador ou já se vê como um operador logístico?

Borges – Estou começando a gostar da operação logística. É uma área que estou estudando, estou entendendo melhor a cada dia que passa. Estou me orientando com fornecedores de tecnologias, como WMS, e empresas de consultoria, que acabam trazendo um pouco de know-how. Mas não posso negar que o transporte é a nossa raiz, está no nosso sangue, é o que nós sabemos fazer melhor. Hoje, porém, o que eu mais busco é o crescimento como operador logístico. Atualmente temos 70% de atuação no transporte e 30% de operação logística. Minha intenção é igualar, com 50% em ambos segmentos.

Tecnologística – Qual sua expectativa em relação ao mercado para os próximos anos?

Borges – Acredito que o segundo semestre de 2017 vai apresentar uma boa melhora. Muita coisa já aconteceu. Percebo pelos meus clientes, que do início do ano para cá já se mostram muito mais confiantes e com expectativas de crescimento. Isso já me traz uma esperança. Mas, para nós, da Rodoborges, o primeiro trimestre não está sendo ruim. Ele está sendo bastante interessante diante do ano passado. Como somos prestadores de serviços, seremos puxados pelo crescimento que todos esperam. Claro que tudo isso depende de mudanças no país, principalmente na política, que é o principal desafio do Brasil. As empresas de logística são meio que uma balança, pois você consegue medir o mercado, porque se a economia cai, o transporte acompanha.

Tecnologística – Quais são os principais problemas enfrentados pelas empresas do segmento na sua opinião?

Borges – Continua sendo a infraestrutura e a segurança. São dois itens que realmente deixam muito a desejar. O Brasil ainda peca na questão das estradas e de pontos de apoio para oferecer para o transporte uma melhor condição para movimentar as cargas para seus destinos. Quanto à segurança, nós não transportamos valores de visibilidade tão grande, como eletrônicos e pneus, e nossa operação farmacêutica é pequena. Mas transportamos cargas como cosméticos de empresas muito conhecidas, que apresentam uma distribuição fácil no mercado ilegal. Por conta disso, temos uma empresa terceirizada de gerenciamento de riscos que faz todo o controle internamente em uma sala blindada.

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Tecnologística – Como é feito o controle dos veículos?

Borges – São todos rastreados por satélite, tanto por GPRS como por satélite, sendo todos com tecnologias híbridas. Todos têm trava-baú, trava da quinta roda e todos os caminhões são monitorados 24 horas por dia, tanto para coleta quanto para distribuição. Temos o Plano de Gerenciamento de Risco (PGR), em que o motorista tem que cumprir todo o cronograma. E mesmo com todo esse aparato, acontecem algumas ocorrências, infelizmente, por conta do aumento da violência. Então infraestrutura e segurança realmente são as maiores dificuldades.

Outro problema é o custo do frete, pois o óleo diesel e os pneus, por exemplo, acabam sendo fatores que apresentam uma inflação fora do que a transportadora consegue lidar muitas vezes. Outro item que era um problema, mas agora está bem melhor, é a questão da mão de obra. Teve um período de uma baixa muito grande da mão-de-obra. Havia pouquíssima qualificação no mercado, mas de um ano para cá isso vem melhorando, até por conta da crise. Está mais fácil encontrar motoristas qualificados atualmente.

Tecnologística – Com o crescimento da empresa, cresceram também os investimentos em tecnologia?

Borges – Nosso TI é terceirizado. Optamos por deixar isso na mão de quem realmente tem expertise. Nosso WMS foi feito pela Global Assist, mas nós operamos o software de forma totalmente independente, e nossas ferramentas são inteiramente integradas. Algumas empresas gostam de criar seus próprios softwares, mas não é o nosso negócio. Nosso negócio é logística. Para o CD de Mairinque, feito para operações grandes, estamos pesquisando um WMS mais robusto, mas ainda não decidimos qual será o escolhido.

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