Nos últimos anos, o hidrogênio de baixo carbono vem ganhando destaque global como vetor estratégico para a transição energética. Produzido a partir de fontes renováveis, como a energia solar e a eólica, não libera de gases com efeito de estufa quando é produzido ou utilizado, sobressaindo-se como uma alternativa para setores de difícil descarbonização (hard to abate), como indústria pesada, aviação, transporte marítimo e transporte de carga pesada.
O Brasil reúne um conjunto de condições naturais, estruturais e estratégicas que o colocam entre os países mais promissores para o desenvolvimento do hidrogênio de baixo carbono, movimento que tem sinergia com o incremento da sustentabilidade do setor logístico.
O país conta com um custo competitivo da eletricidade renovável, o que contribui diretamente para viabilizar economicamente projetos de hidrogênio em larga escala, já que a eletricidade representa a maior parte do custo de produção nesse processo.
Outro ponto favorável é a ampla disponibilidade de recursos hídricos e a existência de extensas áreas geográficas adequadas para a instalação de plantas de produção e infraestrutura de apoio, especialmente em regiões com alto potencial solar e eólico.
O Brasil também possui uma rede de polos industriais consolidados e portos estrategicamente localizados, que podem atuar como hubs logísticos e facilitar tanto o consumo doméstico quanto a exportação do hidrogênio e seus derivados para mercados internacionais, desenvolvendo-se os chamados corredores marítimos verdes.
Em relatório do ICCT sobre os hubs verdes, o qual aborda o potencial dos portos brasileiros no fornecimento de combustíveis marítimos, identificaram-se “três portos públicos (Santos, Rio Grande e Itaqui) e três portos privados (Porto do Açu, Pecém e Navegantes) poderiam servir como potenciais centros de abastecimento de combustíveis marítimos renováveis”. A análise levou em conta fatores como (1) uso atual e potencial acesso à energia renovável, (2) capacidade do porto, (3) infraestrutura portuária, (4) localização estratégica e conectividade e (5) compromisso com a descarbonização. Além desses fatores, é evidente que a política pública deve considerar as vantagens e desvantagens de fomento aos projetos com foco em exportação, se comparado com o uso doméstico.
De todo modo, as vantagens da produção de hidrogênio no Brasil têm atraído a atenção global, refletida no aumento do interesse de investidores estrangeiros e parcerias internacionais. De acordo com a Elétron Energy (2024), o Brasil já ocupa a posição de segundo mercado mais atrativo da América Latina para o desenvolvimento de projetos de hidrogênio, o que reforça seu potencial de liderança na transição energética e na construção de uma economia de baixo carbono.
Alguns projetos promissores já estão sendo desenvolvidos. É o caso dos projetos recentemente selecionados na chamada de hubs de hidrogênio para descarbonização da indústria, do Ministério de Minas e Energia. Foram recebidas 70 propostas, com projetos em todas as regiões do Brasil, incluindo 20 diferentes estados, as quais foram avaliadas de acordo com a Política Nacional de Hidrogênio de Baixo Carbono (PNH2), em especial pela aferição concreta a intenção de potenciais produtores de hidrogênio e seus respectivos consumidores, ou offtakers.
As propostas foram selecionadas também considerando sua financiabilidade, avaliando-se sua aderência aos requisitos para acessar recurso do fundo internacional Climate Investments Funds – Industry Decarbonization (CIF-ID) e contemplam os seguintes projetos:
(Fonte: BNDES)
A variedade dos projetos dão um bom sinal da potencial diversificação da cadeia de valor do hidrogênio no Brasil, com participação de importantes players do setor logístico ali contemplados, como é o caso dos hubs de hidrogênio da Prumo e de SUAPE.
Nos próximos artigos desse especial nós abordaremos como as políticas públicas e o marco regulatório do hidrogênio de baixo carbono, as e os desafios e oportunidades esperados, a incluir parcerias internacionais, com foco no setor de logística. Nos vemos em breve!