O Comitê de Política Monetária (Copom) do Banco Central decidiu manter a taxa básica de juros (Selic) em 15% ao ano, após elevação de 0,25 ponto percentual na última reunião. A decisão, anunciada em ata divulgada nesta terça-feira (24), foi justificada pelo cenário inflacionário acima da meta e pela avaliação de que o atual nível de juros precisa ser sustentado por um período prolongado.
Segundo o documento, os núcleos de inflação vêm se mantendo acima dos níveis compatíveis com a meta estipulada. O Copom afirma que esse quadro está relacionado à demanda interna elevada, o que exige a manutenção de uma política monetária contracionista.
A inflação medida pelo IPCA registrou alta acumulada de 5,32% nos últimos 12 meses até maio, valor acima do limite superior da meta contínua de 4,5%. Pelo novo regime de metas adotado em janeiro de 2025, o Banco Central deve perseguir inflação de 3% ao ano, com margem de tolerância de 1,5 ponto percentual para cima ou para baixo. O modelo de meta contínua considera a variação acumulada em 12 meses, com apuração mensal.
O Copom ressaltou que, embora os alimentos tenham apresentado comportamento de preços mais moderado no curto prazo, o cenário geral da inflação ainda é considerado adverso. As expectativas inflacionárias seguem desancoradas, o que, segundo a ata, exige uma política de juros mais restritiva e por tempo mais longo do que seria necessário em outras condições.
Cenário externo e geopolítica
O ambiente internacional foi descrito pelo Comitê como adverso e incerto, com destaque para a política econômica dos Estados Unidos e seus efeitos sobre o comércio global. As tensões geopolíticas, em especial no Oriente Médio, têm provocado variações no preço internacional do petróleo e influenciado decisões de investimento e consumo.
O Copom apontou também movimentos cambiais abruptos e incertezas fiscais em economias desenvolvidas como fatores de risco adicionais. Ainda que o Brasil tenha sido menos afetado por tarifas internacionais recentes, os impactos sobre o cenário doméstico ainda não podem ser plenamente estimados.
Crescimento e atividade econômica
Em relação ao ambiente interno, o Comitê identificou certo dinamismo econômico, especialmente nos setores menos sensíveis ao ciclo de juros, como a agropecuária, que apresentou crescimento no primeiro trimestre. No entanto, o documento indica moderação nos demais setores, como comércio, serviços e indústria.
Apesar disso, os indicadores de emprego e renda continuam positivos. A ata destaca a geração expressiva de empregos formais e a redução da taxa de desemprego. O mercado de crédito também foi apontado como um vetor de sustentação da atividade econômica, com expansão nos últimos trimestres.
Riscos e justificativa para a taxa de juros
Com base nos dados avaliados, o Copom concluiu que a elevação da Selic para 15% era necessária para lidar com a resiliência da economia e a dificuldade em trazer a inflação de volta à meta. O Comitê indicou que, dado o intervalo entre a adoção de medidas de política monetária e seus efeitos sobre a economia real, ainda se espera impacto futuro da taxa atualmente em vigor.
A ata informa que, após um ciclo recente de alta de juros, o Banco Central pretende agora interromper novos aumentos e avaliar os efeitos acumulados da política monetária para definir os próximos passos. A estratégia, segundo o Comitê, é manter os juros elevados por tempo suficiente para promover a convergência da inflação à meta.