
Em um mundo onde margens estreitas e cadeias de suprimentos sofrem disrupções constantes, a função de procurement deixou de ser um centro de custo para se tornar um motor de eficiência e vantagem competitiva. Quando bem estruturada, a área de compras pode gerar impacto direto sobre produtividade, agilidade e sustentabilidade operacional. Mas isso exige mais do que simplesmente renegociar contratos: requer visão integrada, tecnologia e governança afinada.
O novo papel estratégico do procurement
Uma fotografia interessante surge em estatísticas recentes: aproximadamente 40% das empresas relataram aumento nos custos de sourcing no último ano, segundo levantamento da Corex. Além disso, o Hackett Group indica que muitas organizações alocam cerca de 15% de seu orçamento total para suportar programas de compras e sourcing. Esses dados revelam duas verdades cruciais: o peso financeiro da função é alto — e as empresas que não aprimoram sua operação de procurement estão expostas a custos ocultos.
Tendências globais e desafios emergentes
O relatório Future of Procurement, da KPMG (2024), enfatiza que estamos em um ponto de inflexão: pressões geopolíticas, inflação, sustentabilidade e escassez de talentos obrigam a transformação da área de compras.
Um dado relevante: 77% dos respondentes citam o risco de disrupção na cadeia de suprimentos como principal desafio externo. Ainda segundo o mesmo estudo, ferramentas como predictive analytics, automação de pagamento e RPA já são vistas como tecnologias centrais para os próximos 12 a 18 meses.
A visão acadêmica: eficiência além do custo
Para além das grandes consultorias, a literatura acadêmica também aponta caminhos úteis. Em Optimizing Procurement Processes for Efficiency in Supply Chain Analysis, Lartey et al. defendem que processos de compras devem estar alinhados ao modelo SCOR (Supply Chain Operations Reference) para entregar excelência operacional. Mais do que reduzir custo, trata-se de flexibilidade, qualidade e velocidade.
Outra contribuição interessante vem de Kim et al. (2023), no estudo Enhancing Supply Chain Efficiency: A Two-Stage Model, que propõe um modelo matemático para balancear decisões de múltiplo sourcing com extra procurement para otimizar custo e nível de serviço simultaneamente.
A chegada da inteligência artificial ao procurement
Inovações recentes em inteligência artificial e modelos de linguagem estão entrando no terreno do procurement. Um paper publicado em 2025 mostra como large language models (LLMs) podem aprimorar previsão de demanda, gestão de estoques, relacionamento com fornecedores e tomada de decisão operacional.
Em outro estudo, pesquisadores desenvolveram modelos de cadeia financeira integrada (SCM + FSCM) com suporte de machine learning, que reduziram custos operacionais e melhoraram o giro de estoques em até 30%, mantendo a taxa de atendimento de pedidos acima de 95%.
Estratégia e governança: onde atuar
Esses avanços não alteram apenas o como, mas também o onde procurement atua. Segundo a McKinsey, entre as ações prioritárias para CPOs em 2024 está a reavaliação do portfólio estratégico: identificar materiais dependentes de poucos fornecedores, reduzir dependência crítica e acelerar a qualificação de novos parceiros.
Outro estudo da APQC, em seu 2024 Sourcing and Procurement Blueprint for Success, traz benchmarks de desempenho: métricas como ciclo de compras, conformidade de contratos, custo de compras em relação ao gasto total e eficiência por colaborador são fundamentais para monitorar a evolução.
Cinco alavancas para o salto de eficiência em procurement
O papel humano permanece essencial
Vale destacar que não se trata de substituir pessoas: conforme o futuro do procurement avança, há uma expectativa de que algumas funções operacionais sejam automatizadas, mas o papel estratégico do ser humano permanece central.
Conclusão: arquitetos de eficiência
Ao olhar para o futuro, procurement eficiente é aquele que sabe equilibrar exigência operacional, previsibilidade de custos e capacidade de resposta. Somente assim os profissionais de compras deixam de ser gestores de ordens e passam a ser arquitetos de eficiência, sustentabilidade e vantagem competitiva real