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Duzentos e vinte e um anos de história das mudanças climáticas: quantas COPs mais serão necessárias para a reversão do caos climático?

Por Cesar Meireles e Reinaldo Dantas Sampaio el 2 de diciembre de 2025 a las 7h57
Cesar Meireles
César Meireles
Reinaldo Dantas Sampaio
Reinaldo Dantas Sampaio

“Por quem os sinos dobram? A morte de um indivíduo importa para todos!”
Ernest Hemingway (1899 - 1961)

 

Em “Por quem os sinos dobram” (1940), o escritor norte-americano Ernest Hemingway traz a cena ambientada durante a Guerra Civil Espanhola (1936-1939), cujo título diz respeito ao sermão do poeta e clérigo inglês John Donne, escrito no século XVII, no qual versava: “Nunca perguntes por quem os sinos dobram; eles dobram por ti.”.

Hemingway referia-se aos sinos de uma igreja os quais dobravam para anunciar a morte de alguém. Donne argumenta que, quando uma pessoa morre, a perda diminui toda a humanidade — porque todos estamos conectados. Assim, o sofrimento e a morte de um indivíduo nunca são apenas dele: dizem respeito a todos nós, ou seja, cada vida perdida é um pedaço do mundo que se vai.

Cabe aqui um disclaimer. Nenhum dos dois autores deste texto é especialista em meio ambiente, contudo, transitam profissionalmente há quatro décadas, ambos em comércio exterior. Um é especialista em logística, o outro, economista, e os valores impositivos da realidade geopolítica global, o meio ambiente, a descarbonização e o aquecimento global toca ambos profundamente, levando-os a estudar e divulgar seus achados.

Muitas vezes ouvimos incautos subjugarem suas imprudentes falas negacionistas a respeito dos impactos ambientais globais, desprezando todos os fatos históricos e científicos desde a Revolução Industrial.

Até o início da Revolução Industrial (séc. XVIII e XIX), as taxas de natalidade e de mortalidade eram elevadas, o que estabilizava a população global. Os séculos XIX e XX trouxeram avanços na medicina e práticas de saneamento, reduzindo as taxas de mortalidade. Como dado de registro, a população mundial em 1804 era de 1 bilhão de pessoas.

Coleciona-se neste estudo, um número importante de achados de físicos, químicos, geólogos, cientistas, oceanógrafos, dentre outros, de várias partes do mundo, que alertavam sobre os efeitos climáticos, a exemplo do físico francês Joseph Fourier, que, em 1824, publicara trabalho sobre a “Teoria do Efeito Estufa”, tendo apresentado, dois anos antes, a equação do calor (difusão térmica).

Três décadas mais tarde, em 1861, o físico irlandês John Tyndall descobre que alguns gases podem bloquear a radiação infravermelha, e que as alterações na concentração dos gases poderiam ocasionar mudanças climáticas. Nesse mesmo ano, cientistas dão conta de que a temperatura média mundial estava em 13,6°C.

No mesmo caminho de preocupações, em 1896, o Prêmio Nobel de Química (1903), o sueco Svante Arrhenius, levanta a hipótese de que a queima de combustíveis fósseis poderia potencializar o aquecimento global. No ano seguinte, o geólogo estadunidense Thomas Chamberlin, produz um modelo de troca de CO₂ que contribuiria para o entendimento das mudanças climáticas e do aquecimento global.

Os efeitos climáticos já eram percebidos no início do século XX, quando, em 1927, as emissões de carbono a partir da queima de combustível fóssil com a industrialização alcançam números alarmantes. No ano de 1930, ao atingir 2 bilhões de pessoas no globo, cientistas passam a demonstrar que os impactos antrópicos teriam graves contribuições no acirramento do efeito estufa. Tal fato foi comprovado em 1938, pelo engenheiro britânico Guy Callendar.

Os estudos científicos continuam a evidenciar o agravamento do quadro geral do clima global, assim é que, em 1957, o oceanógrafo americano e cientista climático Roger Revelle em trabalho com o geoquímico e físico austríaco–americano Hans Suess, levantam que o CO₂ produzido pelo homem não será facilmente absorvido pelos oceanos, como se previa.

Em 1958, pela primeira vez, as concentrações de CO₂ na atmosfera terrestre são monitoradas pelo geoquímico norte-americano, uma das figuras mais importantes da história da ciência do clima, Charles David Keeling. Nesse ano, a temperatura média global atingia 13,9°C (+2,21%) em relação à última medição.

Em 1960, a população mundial já atingia 3 bilhões de pessoas, com previsão de que, em pouco mais de trinta anos, estaria duplicada. Não obstante o negacionismo norte-americano, em 1965, a Comissão de Aconselhamento à Presidência dos Estados Unidos alertava que o efeito estufa já era uma “preocupação real”.

Diante das evidências e pressões mundiais, em 1972, a primeira conferência da ONU sobre o meio ambiente é realizada em Estocolmo (Suécia), quando é criado o Programa das Nações Unidas para o Meio Ambiente (PNUMA).

Em 1975, a população mundial atinge 4 bilhões de pessoas, demonstrando uma explosão demográfica preocupante, a qual agrava cada vez mais os impactos globais produzidos pelo homem. Nesse mesmo ano, o geoquímico e oceanógrafo americano, considerado um dos maiores cientistas do clima do século XX, Wallace Smith Broecker, chamado de "o avô da ciência climática", põe o termo "aquecimento global” na agenda do clima, afirmando que “o clima está mudando e nós somos os responsáveis”.

É em 1981 que o climatologista e físico americano, James Hansen, mostra que os aerossóis de sulfato podem interferir, significativamente no clima, aumentando a confiança nos resultados que levam em conta o efeito estufa, tornando o aquecimento global um assunto público mundial.

Na Conferência Villach (Austria), em 1985, emerge a declaração de consenso entre os especialistas de que o aquecimento global parece inevitável e apelam aos governos que considerem firmar acordos internacionais para restringir as emissões.

Doze anos após o último bilhão contabilizado, em 1987, a população global salta para 5 bilhões de pessoas.

O “Protocolo de Montreal”, em 1987, restringe o uso de materiais químicos que destroem a camada de ozônio e, em 1988, é criado o Painel Intergovernamental sobre Mudanças Climáticas (IPCC), no âmbito das Nações Unidas, quando, em Toronto (Canadá) realizou-se a 1ª Conferência Climatológica Mundial, estabelecendo-se o consenso em neutralizar as emissões de gazes de efeito estufa (GEE).

Importante medida é tomada em 1989, quando na Suíça, a “Convenção de Basileia”, em vigor desde 1992, cria o tratado internacional que regula o transporte transfronteiriço de resíduos perigosos e seu descarte, tendo como propósito prevenir o envio de resíduos tóxicos de países desenvolvidos para países não desenvolvidos.

Entre os dias 3 e 14/06/1992, ocorre no Rio de Janeiro (Brasil) a “ECO-92”, também chamada da “Cúpula da Terra - Rio 92”, a qual cria a “Convenção-Quadro das Nações Unidas sobre Mudança Climática”, precursora das COPs, as conferências das partes.

Após 30 COPs, qual o saldo dos muitos acordos e protocolos, como a “ECO-92” (1992), o “Protocolo de Kyoto” (COP3 – 1997), o “Plano de Ação de Buenos Aires” (COP4 – 1998), o “Acordo de Bonn” (COP6-2 – 2001) e o “Acordo de Paris” (COP21 – 2015), na direção efetiva de solucionar ou no mínimo mitigar os drásticos efeitos climáticos globais, que possam garantir um futuro seguro e sustentável para as próximas gerações?

Ratificando os estudos e as teses em tela, em 2012, o gelo no Ártico atingiu a menor área desde que as medições por satélite começaram, em 1979. Entre 2023 e 2024, a velejadora brasileira Tamara Klink, passou oito meses do inverno em seu barco, na Baía de Disko, Groenlândia, atracada em água congelada.

A experiência da velejadora em sua viagem entre a Groenlândia e o Alasca a bordo do Sardinha 2, um veleiro de 10 metros de comprimento, trouxe-nos uma mensagem de alerta sobre os efeitos do aquecimento global. “Só encontrei gelo em 9% da rota. Conversando com cientistas, com caçadores, pescadores e população ártica local, entendi que isso faz parte de uma tendência geral de haver cada vez menos gelo marinho”, alertou Tamara. “Vai ser muito difícil revertê-la se não tomarmos decisões firmes e corajosas nesta década.”

Ocorrências alarmantes, veem sendo registradas! Em 2019, graves incêndios ocorrem na Austrália. Furacões no Atlântico Norte se intensificam. O ano de 2020 foi um dos três anos mais quentes já registrados até então, com temperatura média global de cerca de 1,2°C acima do nível pré-industrial (1850-1900).

Em 2021, chuvas torrenciais ocorrem na Austrália, incêndios nunca vistos em proporção e impacto ocorrem na Califórnia, e enchentes na Alemanha, foram registradas. Furacão Ida, nos EUA, crise hídrica no Brasil e até ciclones no sul da Bahia, sinalizaram alertas graves.

Em 2022, no Reino Unido, a temperatura ultrapassou os 40ºC pela primeira vez. Registra-se chuvas recordes no Paquistão. O Furacão Ian foi o mais mortal e destrutivo no Atlântico Norte a atingir a Flórida. Na Somália, mais de 43 mil pessoas foram vítimas do calor extremo.

O ano de 2023 registrou a pior temporada de queimadas no Canadá, e o pior incêndio da história dos EUA, no Havaí. Ciclones são registrados no Rio Grande do Sul (Brasil). O Ciclone Daniel causou danos catastróficos na Líbia, afetando partes do sudeste da Europa. No Brasil, vivenciou-se a mais extrema seca na Amazônia.

O ano de 2024 foi o mais quente da história, atingindo 1,5°C acima da média de 1850-1900, cuja marca havia sido projetada para ser atingida apenas em 2050. Nesse mesmo ano, enchente na Espanha e incêndios extremos foram registrados na América do Norte. Tempestade Boris na Europa Central e Oriental. A maior enchente histórica foi registrada no Rio Grande do Sul (Brasil), enquanto que incêndios florestais graves ocorreram na Rússia e Argentina.

No ano da COP30, o mundo salta para 8 bilhões de pessoas, e está cerca de 1,42°C acima dos níveis pré-industriais, devendo ser o segundo ano mais quente da história.

Entende-se que todos esses protocolos das COPs fazem parte de um processo, muitas vezes longos e delicados e que o modo como se deve compreender os desafios da questão ambiental, leva-nos a ter um prudente posicionamento, alinhando-nos, talvez, com o pensamento do escritor e dramaturgo Ariano Suassuna, quando afirmava ser “o otimista um tolo, o pessimista um chato, e o bom mesmo é ser um realista esperançoso”.

Vista a questão histórica ambiental deste estudo, constata-se que não houve avanços substantivos, e o melhor exemplo é o registro de que a temperatura da Terra foi elevada, quando se esperava estabilidade. E com essa esperança, lá se vão 30 conferências das nações, trinta anos de debates, protocolos, acordos ou cartas de compromisso, e os resultados não estão alinhados com seus objetivos e com o que efetivamente faz-se mister.

O desacordo fundamenta-se no fato da questão ambiental ser uma prioridade social, e não do poder econômico global. Estima-se em US$ 1,3 trilhão por ano, os recursos necessários para a preservação do meio-ambiente em escala global, sendo cediço que esses recursos serão inatingíveis. Vale lembrar que o “Acordo de Paris”, realizado durante a COP21 (2015), previu arrecadar US$ 100 bilhões por ano até 2020, (estendido até 2025), equivalendo a uma arrecadação total de US$ 1,0 trilhão e, ao que se sabe, alcançou-se apenas US$ 19,3 bilhões.

A controvérsia, no entanto, é que somente em 2024 foram gastos globalmente US$ 2,7 trilhões em armamentos, evidenciando a prioridade geopolítica e a influência do complexo industrial bélico na dinâmica econômica.

Saliente-se ainda que o tema dos combustíveis fósseis ficou fora da “Carta de Belém”, pelo fato de que as maiores economias dependem em cerca de 65% de carvão mineral, petróleo e gás natural na composição das suas matrizes energéticas. Tal dependência indica que o desejo manifesto e todo o esforço em torno do tema, não tem conexão com a realidade objetiva, o que torna inexequível a renúncia aos combustíveis fósseis em um horizonte determinável, preservando a lógica do status quo vigente.

Um caminho sério e comprometido para gerar os recursos financeiros suficientes para cumprir a meta de arrecadação para o combate à fome e aos efeitos climáticos, poderia vir da tributação das operações financeiras globais (OTC), registradas pelo Banco de Compensações Internacionais. Enquanto o PIB mundial está estimado em US$ 110 trilhões, as operações financeiras globais atingiram valores próximos a US$ 700 trilhões em 2024.

Um singelo imposto de 0,002%, arrecadaria cerca de US$ 1,4 trilhão por ano para se constituir o “Fundo Global de Combate à Fome e aos Desequilíbrios Climáticos”. Fundo este, que deveria ser gerido por um “concerto de nações” e fiscalizado por entidades internacionais multilaterais.

Feitas essas considerações, vale refletir a respeito do extraordinário esforço que vem sendo empreendido pelo Brasil, estimulado pelas forças econômicas, políticas e ambientalistas, internas e externas, aceitando os desafios da transição energética e da descarbonização industrial.

Daí derivam perguntas que merecem profunda análise:

  1. Poderá o Brasil conduzir sua modernização industrial, quase uma reindustrialização, subordinando esse percurso aos ditames da “descarbonização” e da “transição energética”, que exigirão avanços tecnológicos que o país ainda não detém?
  2. Não tendo capacidade endógena de investimento, nem pública nem privada, suficientes para dar o salto tecnológico e aportar os vultosos capitais na reestruturação dos novos bens de produção (Departamento I da economia) e, dos novos bens de consumo (Departamento II da economia), caberá ao país a função dependente de fornecedor de “energia verde”, funcionando como a novíssima “commodity” global?

 

Paira a estranha sensação de que estamos diante de um “Grande e Universal Teatro do Absurdo”, a encenar a peça de Samuel Beckett, “Esperando Godot”. Em cena, Wladimir e Estragon personagens da peça, estão representados por toda a sociedade mundial vivendo a crença falsa, alienada e vã da vinda de Godot, para trazer-lhes não se sabe o que, nem quando, aquilo que parece ser a esperança do que seria por todos desejado.

Pozzo e Lucky são dois personagens enigmáticos de “Esperando Godot” e funcionam como um contraponto simbólico a Vladimir e Estragon. Neste Teatro Global, eles são representados pelos eventos mundiais que prometem “a vinda de Godot”, assim (sic), é preciso esperar e resistir, porque Godot virá e será a solução para tudo, para a fome, o desterro, os desabrigados, os refugiados, o clima, a expropriação da natureza e da gente pobre e, assim como Wladimir e Estragon, tendo a suposição de que deve haver algum propósito na nossa existência mantendo a esperança por sentido e redenção, adquirirmos uma nobreza que nos permita crer tanto na transcendência, quanto na possibilidade material e objetiva, de transformar a realidade.

Finalizamos questionando quantas COPs ainda serão necessárias para a verdadeira disrupção global e a reversão do caos climático? Não há mais tempo, mesmo porque, senhoras e senhores, o que temos por certo, é que Godot não virá!!!

 

Referências selecionadas (consultadas):

Reuters

Times of India

Live Science

Descomplicando Clima

BBC

 

Carlos Cesar Meireles Vieira Filho é mestre em administração (UFBA), MBA em Economia e Relações Governamentais (FGV) e em Gestão de Conselho (FDC). Foi co-fundador e ex-presidente da ABOL (Associação Brasileira de Operadores Logísticos). É especialista em logística portuária e logística geral, tendo sido executivo “c-level” de empresas como a Columbia Nordeste, Grupo Lachmann, Santos Brasil, Grupo TPC (atual JSL), Multilog e Katoen Natie. É sócio-diretor da Talentlog – Consultoria e Planejamento Empresarial Ltda. É conselheiro do COMEX da FIEB (Federação das Indústrias do Estado da Bahia).

Reinaldo Dantas Sampaio é empresário, economista, com especialização em economia mineral. É presidente executivo da ABIROCHAS (Associação Brasileira da Indústria de Rochas Ornamentais), e membro do Conselho Temático Permanente de Política Industrial e Desenvolvimento Tecnológico da CNI (Confederação Nacional da Indústria). É membro do Conselho Temático de Mineração da CNI e do Fórum Nacional da Indústria – Conselho Consultivo da CNI, membro do Conselho de Representantes e do Comitê de Comercio Exterior da FIEB (Federação das Indústrias do Estado da Bahia) e conselheiro do CORECON (Conselho Regional de Economia da Bahia). Foi vice-presidente da FIEB e é, atualmente o presidente do Conselho Deliberativo do Instituto Politécnico da Bahia.

 

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