A produção de lichia no Sudeste do Brasil registrou aumento expressivo em 2024, com uma supersafra que ampliou em até 50% o volume colhido. A expansão da cultura, no entanto, evidenciou gargalos estruturais, especialmente relacionados à conservação e escoamento da fruta, cuja alta perecibilidade dificulta a comercialização em larga escala.
O crescimento mais intenso foi observado em estados como São Paulo, Minas Gerais, Paraná e Rio de Janeiro, que juntos alcançaram um volume total de 6,5 mil toneladas. Segundo dados da Embrapa e da Ceagesp, o ritmo de expansão da cultura aumentou de uma média de 5% para 12% ao ano.
A principal dificuldade relatada pelos produtores está na fase pós-colheita. A lichia precisa ser colhida madura e, quando mantida em temperatura ambiente, tem vida útil média de sete dias. Sob refrigeração, esse período pode se estender para até três semanas, o que ainda representa um intervalo curto em comparação a outras frutas comercializadas in natura.
Ricardo Soares de Arruda Pinto, considerado o maior produtor da fruta na América Latina, cultiva 26 mil pés de lichia em uma área de 113 hectares em Itaí, interior de São Paulo. Em parceria com o Sebrae-SP de Ourinhos, ele articulou a inclusão da região do Alto do Paranapanema no programa estadual SP Produz, na categoria de Cadeia Produtiva Local (CPL). Com isso, os fruticultores locais poderão apresentar projetos voltados à melhoria da produção, beneficiamento e comercialização da lichia.
O produtor defende o fortalecimento da agroindústria como alternativa para mitigar perdas. De acordo com ele, cerca de 15% dos frutos colhidos não são aceitos por redes varejistas devido à aparência externa, ainda que estejam próprios para consumo. A proposta é direcionar esse volume excedente à produção de itens como frutas desidratadas, polpas congeladas e derivados para uso alimentício e cosmético.
Outro produtor, João Eduardo Ramalho, do município de Tejupá (SP), produziu 150 toneladas de lichia em 2024, quantidade 50% acima da média histórica em seus 35 hectares de pomar. Apesar do aumento, parte da safra não foi colhida a tempo. Ramalho identificou a durabilidade limitada como principal obstáculo e afirma ter investido em uma tecnologia de embalagem desenvolvida em Israel, capaz de ampliar o prazo de conservação da fruta para até 30 dias.
Especialistas da Embrapa e representantes do setor defendem a adoção de soluções combinadas, que envolvam melhorias na logística, investimentos em resfriamento, modernização das embalagens e estímulo à diversificação dos produtos derivados. A expectativa dos produtores é que a articulação institucional e o apoio técnico contribuam para ampliar a competitividade da cultura da lichia no mercado interno e externo, reduzindo a sazonalidade do consumo e as perdas durante o escoamento.
*Com informações do jornal O Globo.