
Os rios das regiões hidrográficas da Amazônia e do Tocantins-Araguaia movimentaram 107,4 milhões de toneladas de cargas no último ano e concentraram 89% de todo o transporte fluvial realizado no Brasil, segundo dados da Agência Nacional de Transportes Aquaviários (Antaq). O volume reforça o papel da navegação interior como eixo central da logística no Norte do país e como suporte ao escoamento da produção agrícola, industrial e de abastecimento das cidades ribeirinhas.
A predominância do modal hidroviário na Amazônia está associada à própria configuração territorial da região, onde o acesso fluvial é, em muitos casos, a principal ou única alternativa de transporte. Do total de 20,1 mil quilômetros de vias economicamente navegáveis no Brasil, cerca de 16 mil quilômetros estão localizados na Amazônia, o que representa 80,79% da malha hidroviária nacional.
A intensificação do uso logístico dessas hidrovias ganhou escala a partir da expansão do agronegócio em áreas mais ao norte do Centro-Oeste. Com o avanço da produção agrícola, especialmente de soja e milho, os portos do Arco Norte passaram a integrar de forma mais relevante as rotas de exportação, reduzindo distâncias terrestres e redistribuindo fluxos antes concentrados nos portos do Sudeste e do Sul.
Soja e milho respondem por aproximadamente metade da carga transportada pelos rios do Norte. Além dos granéis agrícolas, a navegação fluvial também é parte da logística do Polo Industrial de Manaus, que utiliza barcaças para o deslocamento de contêineres até os portos do Arco Norte. A partir desses pontos, a carga segue por cabotagem para outros mercados internos e para países do Mercosul.
O modelo operacional baseado em barcaças é um dos principais elementos da navegação interior na região. As composições formadas por múltiplas barcaças acopladas a empurradores permitem o transporte simultâneo de grandes volumes. Em alguns casos, um único comboio pode movimentar até 75 mil toneladas de carga, reduzindo a necessidade de milhares de viagens rodoviárias em trajetos de longa distância.
A escala do transporte fluvial contribuiu para a redução dos custos logísticos nos corredores de exportação do Norte. Comparações entre rotas exclusivamente rodoviárias e trajetos combinados, com uso de rodovias até terminais fluviais e posterior navegação por rios, indicam diferença no custo por tonelada transportada, favorecendo os modelos intermodais.
Apesar do volume transportado e da relevância econômica, a navegação fluvial na região enfrenta restrições operacionais. A sazonalidade dos rios, com períodos de estiagem que reduzem o nível das águas, limita a operação em determinados meses do ano. Gargalos de acesso terrestre aos portos fluviais também afetam a fluidez logística, com concentração de caminhões em trechos urbanos próximos aos terminais.
A ampliação da capacidade das hidrovias depende de intervenções estruturais, como dragagem, sinalização e manutenção contínua dos canais de navegação. Projetos de concessão das hidrovias da Barra Norte, dos rios Madeira, Tapajós e Tocantins constam nos planos do governo federal e preveem a transferência da gestão à iniciativa privada. Entre os empreendimentos em análise está a viabilização da Hidrovia do Tocantins, condicionada à remoção do trecho conhecido como Pedral do Lourenço, no Pará, que pode ampliar significativamente o volume transportado em direção ao porto de Barcarena.
Enquanto os processos de concessão seguem em fase de planejamento, com expectativa de leilões a partir de 2027, o Ministério de Portos e Aeroportos anunciou contratos para garantir a dragagem e a sinalização dos rios Amazonas e Solimões. Os acordos preveem investimentos de R$ 370 milhões e prazo de cinco anos para a execução dos serviços.
O governo federal também mantém investimentos em terminais de pequeno porte, utilizados como pontos de apoio logístico e de abastecimento. Essas estruturas atendem ao transporte de combustíveis, alimentos e insumos básicos para comunidades que dependem diretamente da navegação fluvial.
O volume de cargas transportadas pelos rios do Norte evidencia a centralidade das hidrovias na matriz logística brasileira. A consolidação desses corredores fluviais é parte do processo de integração do agronegócio, da indústria e do abastecimento regional, ao mesmo tempo em que expõe a necessidade de planejamento contínuo para garantir previsibilidade operacional, redução de custos e ampliação da capacidade de transporte no longo prazo.