A Associação Nacional do Transporte de Cargas e Logística (NTC&Logística) divulgou nota oficial manifestando preocupação com a decisão do governo federal, anunciada em 25 de junho de 2025, que eleva de 14% para 15% o percentual de biodiesel adicionado ao diesel comercializado no país. A medida entrará em vigor em 1º de agosto e foi aprovada pelo Conselho Nacional de Política Energética (CNPE), sendo apresentada durante o evento “Combustível do Futuro Chegou: E30 e B15”, realizado na sede do Ministério de Minas e Energia, em Brasília.
Segundo a entidade, o aumento da mistura desconsidera os alertas emitidos pelo setor de transporte rodoviário de cargas e ignora evidências técnicas relatadas ao longo dos últimos meses. A NTC&Logística, que representa transportadoras em todo o território nacional, sustenta que o novo percentual poderá gerar agravamento de problemas operacionais e elevação de custos logísticos.
De acordo com dados da associação, desde a elevação da mistura para 14% em março de 2024, empresas de transporte relataram aumento na frequência de manutenções, especialmente a necessidade de substituição de filtros de combustível. Estudo técnico da própria NTC&Logística indica que a durabilidade desses componentes foi reduzida pela metade, elevando os custos de manutenção por veículo em mais de 7% e afetando em cerca de 0,5% o custo total das operações logísticas. Em frotas com 100 veículos, esse acréscimo seria equivalente ao valor de aquisição de um caminhão novo em um ano.
Além das questões de manutenção, a entidade também cita análise da Confederação Nacional do Transporte (CNT), que documenta instabilidades no biodiesel produzido no país. Conforme registrado no estudo “Estudos sobre o Biodiesel Brasileiro”, há casos de contaminação do combustível já na chegada às distribuidoras, o que pode acarretar obstrução de filtros, falhas mecânicas e panes durante viagens.
O impacto da medida em regiões com temperaturas mais baixas também foi citado. Transportadoras e veículos da imprensa especializada relataram episódios de cristalização do combustível e congelamento de componentes em estados do Sul, o que comprometeu o funcionamento dos veículos e elevou os riscos à segurança viária.
No campo ambiental, a NTC&Logística fez referência a estudos elaborados por pesquisadores da Universidade de Brasília (UnB) e da Universidade Federal de Minas Gerais (UFMG), também mencionados pela CNT. Os trabalhos indicam que o aumento do teor de biodiesel pode resultar em maior consumo específico de combustível, aumento nas emissões de gases como CO₂ e óxidos de nitrogênio (NOx), além de perda de potência dos motores.
No aspecto econômico, a entidade aponta que a elevação do percentual obrigatório pode exercer pressão sobre o mercado da soja, matéria-prima principal do biodiesel nacional. O crescimento da demanda por óleo de soja tende a impactar os preços dos alimentos e contribuir para a elevação da inflação.
O posicionamento da NTC&Logística está alinhado ao de outras organizações do setor, como a própria CNT, que vem reiterando a necessidade de cautela nas definições sobre o teor de biodiesel no diesel comercial. Ambas as entidades defendem que alterações no percentual sejam precedidas por estudos técnicos aprofundados e contem com a participação direta dos setores impactados.