O uso de biocombustíveis foi apontado como uma solução imediata e viável para a descarbonização do setor de transportes no Brasil. A conclusão é do estudo “Biocombustíveis como solução imediata e eficaz para a descarbonização do transporte”, apresentado no dia 16 de junho durante o seminário “Brasil em Movimento: Segurança Energética e Alimentar – As rotas para o sucesso dos biocombustíveis e da bioeletrificação”, em São Paulo.
Elaborado pela professora doutora Glaucia Souza, da Universidade de São Paulo (USP) e coordenadora do Programa BIOEN da Fapesp, o estudo destaca que os biocombustíveis são uma alternativa disponível para enfrentar as mudanças climáticas. O evento foi organizado pelo Acordo de Cooperação Mobilidade de Baixo Carbono para o Brasil (MBCBrasil) e contou com a participação de representantes do governo, setor privado e academia.
Segundo o levantamento, a bioenergia representa atualmente 50% da energia renovável consumida no mundo. Para atingir as metas climáticas globais, a produção mundial de biocombustíveis precisará crescer 2,5 vezes até 2030. O aumento permitiria uma redução de aproximadamente 800 milhões de toneladas de CO₂ de origem fóssil, o equivalente a 10% das emissões globais do setor de transporte.
Glaucia Souza destacou que os biocombustíveis já fazem parte da matriz energética brasileira e têm papel relevante tanto na redução das emissões quanto no desenvolvimento socioeconômico. A pesquisadora foi recentemente condecorada com o título de Comendadora da Ordem de Rio Branco, em reconhecimento à sua atuação em diplomacia científica e sustentabilidade.
O estudo também discute a questão da competição entre a produção de biocombustíveis e alimentos. De acordo com a pesquisadora, essa preocupação não se confirma tecnicamente. O documento indica que a agricultura nacional tem capacidade de produzir simultaneamente alimentos, biocombustíveis, bioeletricidade e outros produtos. O relatório também ressalta o potencial de práticas como o cultivo duplo, que permite diferentes safras na mesma área ao longo do ano, aumentando a oferta de biomassa e promovendo benefícios como a preservação da biodiversidade e a melhoria do uso da terra.
No campo econômico, o estudo projeta que o Brasil pode ampliar sua posição no mercado global de biocombustíveis até 2030, com geração de empregos verdes e fortalecimento das cadeias agrícola e industrial. A expansão do mercado internacional de soluções de baixo carbono é vista como uma oportunidade para o país.
O coordenador do Conselho de Administração do MBCBrasil, José Eduardo Luzzi, afirmou que a transformação desse potencial em resultados concretos depende de planejamento e comprometimento. Segundo ele, o Brasil possui tecnologia, capacidade produtiva e histórico no uso de biocombustíveis.
Para a continuidade dos investimentos no setor, representantes da indústria apontam a necessidade de um ambiente regulatório estável. Evandro Gussi, presidente da União da Indústria de Cana-de-Açúcar e Bioenergia (Unica), defendeu a criação de um marco jurídico claro e de longo prazo, com previsibilidade e segurança para os investidores.
O CEO da Be8, Erasmo Carlos Battistella, também destacou o papel dos biocombustíveis como ferramenta estratégica para a descarbonização e como fator de modernização da indústria e fortalecimento do agronegócio. Segundo ele, a produção de biocombustíveis contribui para a redução das emissões e agrega valor à cadeia agrícola, além de movimentar a economia nacional.