O roubo de cargas segue como uma das principais ameaças à logística brasileira, de acordo com o novo estudo da ICTS Security. A empresa especializada em consultoria e gestão de segurança analisou dados de 2023 e 2024 sobre as ocorrências em todo o país. O levantamento revela um cenário paradoxal: enquanto o número total de roubos caiu 11% em 2024, o prejuízo financeiro disparou, atingindo R$1,217 bilhão, um aumento de 21% em relação ao ano anterior.
A pesquisa indica uma transformação no perfil das quadrilhas, que vêm priorizando cargas de alto valor agregado e de rápida revenda, como alimentos, cigarros, eletroeletrônicos, medicamentos e cosméticos. Essa seletividade tem ampliado o impacto financeiro das ações, mesmo com uma menor quantidade de ataques.
O Sudeste permanece como epicentro dos crimes, concentrando 83,6% dos prejuízos nacionais. O estado de São Paulo responde por 47,2% das perdas, seguido por Rio de Janeiro (18,7%) e Minas Gerais (14,2%). No entanto, o estudo revela uma redistribuição geográfica do risco: o Nordeste saltou de 8,3% para 11,7% de participação nos prejuízos, com destaque para os corredores logísticos de Pernambuco, Maranhão e Bahia.
"O avanço das quadrilhas para rotas menos protegidas, especialmente no Nordeste e interior de São Paulo, mostra uma adaptação rápida do crime organizado às vulnerabilidades regionais. A seletividade dos alvos é uma tendência que exige das empresas uma revisão constante de seus planos de gerenciamento de risco", afirma Anderson Hoelbriegel, Diretor de Negócios da ICTS Security.
Além do aumento de seletividade, o estudo também mapeou a sazonalidade e os horários mais críticos para as ocorrências. Em 2024, 31,1% dos roubos aconteceram durante a madrugada e 27,8% à noite, invertendo o padrão de anos anteriores, quando as manhãs lideravam as estatísticas. Os meses de março e maio, associados ao aumento do fluxo logístico por datas comerciais, foram os mais críticos.
Outro dado que merece atenção é o crescimento das ocorrências em estados da Região Norte. Historicamente fora do radar, a região passou de 0,1% para 0,9% de participação nos prejuízos nacionais, puxado por ocorrências no Pará e Amazonas.
O estudo também destaca a região Sul como referência em ações integradas entre forças públicas e privadas. O estado do Paraná eliminou estatisticamente as ocorrências de roubo de carga em 2024, resultado de uma forte integração entre a Polícia Rodoviária Federal, estaduais e o setor privado. "O exemplo do Paraná comprova que a cooperação e o uso intensivo de dados e tecnologia são capazes de neutralizar a atuação das quadrilhas. Mas essa vigilância precisa ser constante, pois o crime se adapta com muita rapidez", pontua Hoelbriegel.
O estudo da ICTS Security reforça que, para conter a evolução do crime organizado, é essencial investir em tecnologia embarcada, inteligência preditiva, planejamento de rotas e estratégias colaborativas entre empresas e órgãos públicos. Corredores logísticos como a BR-116, BR-381, Rodoanel, BR-101 e BR-232 são apontados como prioritários nas ações de prevenção.
"A evolução do crime logístico no Brasil não é apenas uma questão de segurança pública, mas um desafio estratégico para a economia. A proteção das cadeias de abastecimento passa, necessariamente, pela capacidade de antecipar riscos com base em dados, fortalecer cooperação público-privada e garantir que as tecnologias estejam acessíveis a todas as empresas, inclusive as de médio porte", conclui Hoelbriegel.