Conte-nos um pouco sobre a história da Silotec e o que levou à criação da GDL.
Renata Campos – A Silotec é uma empresa familiar, fundada em 1993 pelo meu pai e dois tios no estado do Espírito Santo e licitada pela Receita Federal como porto seco – hoje somos um Centro Logístico e Industrial Aduaneiro (Clia) – em uma época de grande movimentação na importação de automóveis. Havia na região também o porto seco Coimex, que posteriormente seria adquirido pela Tegma.
Na época da fundação da Silotec eu fui morar na Alemanha e, num determinado momento, passei a integrar o conselho da empresa. Todos os meses eu vinha para o Brasil para participar do conselho, mas há cerca de sete anos decidi voltar para o Brasil para estar mais perto da Silotec. A empresa não estava numa fase muito boa, então eu e uma prima minha decidimos assumir de fato o comando. Eu como presidente, responsável pelas áreas Comercial e Operacional, e ela como responsável pela área Financeira.
Nessa época, a maior parte da receita dos nossos concorrentes vinha da importação de carros, mas nós não éramos competitivos nesse setor, e um dos principais motivos era o fato de nosso pátio não ser asfaltado. Então eu vi nisso uma oportunidade, e nós fomos atrás da importação de máquinas. Esse movimento deu muito certo e nós chegamos a ter um pátio de 60 mil m² totalmente lotado de máquinas de grande porte, especialmente de fabricantes chinesas, pois estávamos na época do grande boom das máquinas vindas da China. Eu brincava que enquanto os meus vizinhos tinham bois eu tinha búfalos.
Com isso os negócios foram andando muito bem, e nós reerguemos a Silotec. Estabelecemos uma gestão bastante direta, atraímos novos clientes, aprendemos muito com as pessoas que já faziam parte da empresa e passamos a conhecer cada particularidade do mercado.
Mas vocês lidam também com carga geral, certo?
Renata – Sim. Na verdade sempre lidamos, mas foi nessa mesma época que nós começamos a ampliar ainda mais as operações com carga geral. Isso foi crescendo cada vez mais, o que foi muito importante para a empresa, devido ao crescimento do e-commerce que viria em seguida. Depois de se aprofundar nesse mercado de máquinas – e conforme ele foi perdendo força –, nós nos desenvolvemos mais como centro de distribuição, operando com cargas como medicamentos, por exemplo, lá no começo em especial importados do Canadá.
Voltando à história da empresa, como se deu a negociação com a Tegma?
Renata – Logo que eu voltei para o Brasil, houve conversas com a Tegma a respeito da compra da Silotec, justamente devido à situação complicada em que ela se encontrava. Vale mencionar que, apesar de concorrentes, Silotec, Coimex e também o Terca sempre foram empresas muito unidas, até mesmo por meio da Associação das Empresas Permissionárias de Recintos Alfandegados (Apra), que congrega os três portos secos do Espírito Santo.
Mas eu avaliei que não era hora de se envolver em uma negociação. Achei que o mais correto era analisar as contas e arrumar as coisas, e foi isso que nós fizemos. Com tudo acertado, eu avaliei que nós poderíamos voltar a conversar. Na verdade foi uma conversa bem longa, que durou cerca de um ano e meio, até chegarmos à formação da Gestão de Desenvolvimento em Logística (GDL), em 2017.
Que não foi uma venda, mas a formação de uma joint venture entre Silotec e Tegma, correto?
Renata – Exatamente, mas entre Silotec e Tegma Logística Integrada (TLI), que é a empresa de alfandegamento da Tegma. Como tanto ela quanto a Silotec possuem concessões para seus Clias, nós desenhamos um modelo em que há uma holding, chamada GDL, e abaixo dela estão os dois recintos alfandegados. Sendo assim, hoje a GDL é a empresa-mãe da TLI e da Silotec. As demais empresas que fazem parte do Grupo Tegma são independentes dessa negociação.
E como ficou a estrutura societária da GDL?
Renata – A Silotec detém 50% e a Tegma detém os demais 50%. Nenhuma das duas empresas prevaleceu sobre a outra, e GDL é justamente uma nova marca que as representa. Para o cliente, tanto Silotec quanto Tegma já possuem uma história muito importante, são nomes bastante respeitados, e para o funcionário é importante estar sob um nome que unifica as operações. Então Silotec e TLI passaram a ser chamadas de GDL.
A cúpula diretiva da GDL vem da Silotec, certo?
Renata – Sim. Eu sou a CEO da empresa e trouxe o meu time, até mesmo porque quando se está ganhando o jogo, é importante continuar com os mesmos jogadores. Mas o quadro de colaboradores é bastante misto. Eu tenho, por exemplo, dois gerentes que eram da Silotec e um que era da TLI, além de vários líderes e supervisores que vieram da Tegma. Houve poucas demissões, que envolveram somente cargos superpostos, pois é claro que não havia a necessidade de manter, por exemplo, dois departamentos de Recursos Humanos, de Contabilidade, de Tecnologia da Informação etc.
E na operação?
Renata – Tivemos 100% de aproveitamento, já que as estruturas continuam as mesmas. Temos uma cultura muito forte de valorização dos colaboradores. A Silotec tem muitos funcionários com mais de 20 anos de casa. Com certeza mais de 50% do quadro. São pessoas que cresceram junto com a empresa. São casos como de uma funcionária que entrou como assistente Financeira e hoje é diretora Comercial.
Nós contamos com um total de quase 500 colaboradores, e acabamos de contratar 46 novos funcionários para atuar no novo CD de fármacos que foi inaugurado recentemente.
Essa é a estrutura dedicada às operações do Grupo DPSP?
Renata – Sim. Ele está localizado dentro do terminal multimodal Tims. O DPSP administra as Drogarias Pacheco e Drogaria São Paulo, e nessa operação nós trabalhamos com tudo que eles distribuem dentro das lojas, desde os fármacos até meias, óculos e prendedores para cabelo.
O CD possui área climatizada e refrigerada, para alimentos, bebidas, medicamentos e vacinas, e também uma área para medicamentos controlados. A segurança é um aspecto muito importante nessa operação, pois no meio farmacêutico existem itens muito visados. Pra se ter uma ideia, nós temos 98 câmeras em 7 mil m² de armazenagem. Não existem pontos cegos nessa operação.
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GDL vai operar novo CD do Grupo DPSP no Espírito Santo
Qual o tamanho da estrutura da GDL?
Renata – São 720 mil m² de pátios e 60 mil m² de armazéns cobertos, incluindo câmaras frigorificadas e climatizadas. Nós operamos com cargas que vão desde helicópteros até agulhas.
Como essa estrutura estava dividida antes da formação da joint venture?
Renata – A divisão era bastante equilibrada. A Silotec contava com 320 mil m² de pátios, por exemplo.
A GDL opera de alguma maneira fora do Espírito Santo também?
Renata – As operações de transporte a partir dessas estruturas não são nossas. A GDL atua como recinto alfandegado e como CD no estado do Espírito Santo. Se o cliente nacionaliza a mercadoria conosco, ela pode seguir para o nosso CD e, a partir dali, partir para a distribuição. Ela pode também não passar pelo nosso CD e ir para um localizado em São Paulo, digamos, e dali então ser distribuída. Ou pode ir direto para o ponto de venda a partir do Espírito Santo.
Como está o mercado de importações do Espírito Santo atualmente?
Renata – Apesar de todas as dificuldades que o país tem enfrentado, o nosso mercado está muito bem e bastante aquecido. As importações não diminuíram e os negócios têm caminhado muito bem. O setor de e-commerce, por exemplo, está em constante crescimento, especialmente com o mercado de eletrônicos.
E como você avalia o cenário brasileiro de uma forma geral, especialmente com a aproximação das eleições?
Renata – Nós atravessamos muito bem o auge da crise, inclusive estabelecendo essa parceria e fechando novos negócios. E temos muitas novidades para o futuro. Independente do que vai acontecer na política, nós acreditamos muito em nós mesmos, na nossa força. Quem se prepara bem e começa a se preparar com antecedência, passa melhor por qualquer dificuldade que possa surgir. E essa fusão ajudou muito nisso. Ela nos tornou mais enxutos e muito organizados para seguirmos no caminho do crescimento.