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André Prado, CEO da BBM Logística - Com o objetivo de se tornar um dos maiores operadores logísticos do Mercosul, a BBM Logística vem investindo pesado em estrutura e mão de obra, buscando cada vez mais eficiência e produtividade. Crescendo de forma acelerada, a empresa prevê ultrapassar R$ 1 bilhão em faturamento até 2022. Em entrevista exclusiva para a Tecnologística, o CEO André Prado delineia as estratégias adotadas para atingir tais metas, que incluem uma recente reestruturação e a aquisição da empresa Transeich
Por Redação em 24 de agosto de 2018 às 12h01 (atualizado às 12h07)
Crédito: Radamés Jr.
Crédito: Radamés Jr.

Recentemente a BBM Logística passou por uma reestruturação, que incluiu o aporte de um fundo de investimento, correto? Conte-nos mais sobre isso.

André Prado – A BBM nasceu em 1996, como uma empresa familiar, formada por três sócios. Ela se desenvolveu bastante e muito rapidamente, e isso se intensificou ainda mais nos últimos seis anos. Em 2015, percebendo que o crescimento havia sido de fato muito rápido, constatou-se que era preciso se reestruturar para suportar tudo que estava acontecendo, para continuar em ascensão, alcançar patamares ainda maiores e estar entre os maiores operadores logísticos brasileiros. Em resumo, a empresa estava atingindo níveis que demandava uma profissionalização ainda maior do que a que já existia. Em 2017, quando a BBM atingiu um faturamento de R$ 360 milhões, foram iniciadas conversas com alguns fundos de investimento, como parte dessa reestruturação. E dentre eles estava o Stratus, que apresentou uma proposta muito interessante, bastante alinhada ao projeto que a empresa tinha em mente.

Nesse mesmo momento ficou decidido que a empresa teria uma gestão mais executiva, então eu substituí o antigo sócio majoritário como CEO e nós formamos toda uma diretoria com profissionais de mercado altamente capacitados. Além disso, foi formalizado também um Conselho Administrativo mais sólido e robusto. Hoje a BBM conta com uma gestão conjunta, realizada pelos antigos proprietários e pelo Stratus. Dessa maneira a empresa passou a contar com uma estrutura diretiva muito forte, e isso foi feito justamente pensando em todo o crescimento esperado, que realmente vem se concretizando.

Mas a reestruturação da BBM não se limitou à alta direção. Nós reforçamos todo o backoffice também, além de dedicarmos muita atenção a itens como gerenciamento de riscos, segurança das operações e todos os processos internos. Com tudo isso, podemos dizer que hoje a BBM é uma empresa de primeira linha.

A BBM surgiu focada em algum segmento específico?

Prado – O primeiro grande cliente, que inclusive está conosco até hoje, é do segmento de gases do ar. Isso fez com que a empresa nascesse e crescesse com muito know-how nesse tipo de operação, mas logo ela se tornou especialista também no setor florestal. Essa área hoje é muito importante para a BBM, até mesmo pela força que ela apresenta na economia brasileira de maneira geral, pois papel e celulose são produtos nacionais muito importantes.

Vale destacar que a empresa entrou nesse negócio praticamente junto com um movimento de profissionalização do próprio segmento, o que fez com que a BBM crescesse junto com ele e se tornasse realmente especialista nesse tipo de operação. O setor florestal exige muito conhecimento técnico, além de bastante investimento. São operações dedicadas, que funcionam sem interrupções, 24 horas por dia, durante os sete dias da semana, com uma exigência de produtividade muito alta. E tecnologicamente essas operações também são muito desenvolvidas, com equipamentos e inovações bastante particulares.

O setor florestal é o mais representativo nos negócios da BBM atualmente?

Prado – As operações florestais e do agronegócio estão dentro da divisão que nós chamamos de Forest & Agribusiness (F&A), que representa um terço da empresa. Outro terço é constituído pela divisão Industry, que são os contratos dedicados à indústria, com operações como portuária, in house, de armazenagem e inbound. As atividades com gases do ar, por exemplo, estão dentro dessa divisão, bem como outros contratos dedicados para outras indústrias. O restante pertence à divisão Transportation Management (TM), que representa a atividade tradicional de gestão de transporte, com carga fracionada e lotação, além de armazenagem e transporte internacional. São três divisões distintas dentro da BBM e cada uma delas tem, inclusive, seu próprio diretor.

Qual o segredo para lidar com clientes que possuem operações tão técnicas?

Prado – Sem dúvida é muito mais difícil, e justamente por isso somos muito dedicados a conhecer a fundo nossos clientes. Mas na minha opinião existe um grande erro que a maioria das empresas brasileiras comete em relação à sua logística: ficar discutindo preço. O segredo, na verdade, é buscar a melhor solução possível para cada demanda, para só depois falar sobre preço. Quando você conta com a melhor solução, ela passa a ser a mais barata também, pois é a que naturalmente vai trazer mais ganhos, independente do valor pago. Uma operação otimizada é sempre a mais barata. E eu fico muito feliz por ver que nos últimos anos algumas empresas se deram conta disso e começaram a pensar dessa maneira. É claro que todo mundo quer enxugar os custos, e é justamente por isso que nós temos que ser verdadeiros parceiros, buscando realmente a melhor solução para cada caso.

Neste ano de 2018 a BBM fez sua primeira aquisição, certo?

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Prado – Exatamente. No começo do ano surgiu a oportunidade de realizar nossa primeira aquisição e nós compramos então a empresa Transeich, que atuava com transporte e armazenagem. Os maiores benefícios dessa negociação estão no fato de ela ter nos trazido clientes de altíssimo nível, uma equipe muito capacitada e engajada e a possibilidade de entrar em novos mercados, nos quais nós não atuávamos até então, tornando a BBM muito mais forte.

A atuação da Transeich era complementar à nossa. Existiam, por exemplo, operações para a indústria nas duas empresas, que nós integramos à divisão Industry, e de transporte, que unimos à divisão TM. Mas eles atuavam também com os setores químico e petroquímico e possuíam operações intermodais, que nós não fazíamos e acabamos adquirindo com essa compra. É interessante destacar, portanto, que o crescimento da BBM com esse negócio não foi somente em tamanho, mas em competências, serviços oferecidos e setores atendidos.

Qual a abrangência territorial da atuação da BBM?

Prado – Nós atuamos no Brasil e no Mercosul. Estamos em todas as regiões do Brasil, em todos os estados do Sul e do Sudeste e em alguns do Centro-Oeste, Norte e Nordeste. Mas a perspectiva é que a operação chegue a todos os estados do país em breve. É fundamental, no nosso ramo, contar com uma boa rede logística, e estamos comprometidos a construir, senão a melhor, uma das melhores redes logísticas do Brasil e do Mercosul. Todo o trabalho que nós estamos desenvolvendo é voltado pra isso. Estamos sempre pensando em como aprimorar ainda mais nosso alcance, nossos pontos de transferência, nossa equipe.

Falando sobre os demais países, nós temos uma unidade própria em Buenos Aires e uma em Uruguaiana, no Rio Grande do Sul, para atuar na fronteira com a Argentina. Isso é muito bom, pois nós podemos tanto passar direto pela fronteira quanto utilizar esse armazém para apoio local. Esse aspecto internacional, inclusive, foi bastante reforçado com a compra da Transeich, que contava com uma forte operação fora do Brasil. Hoje a BBM está entre as três maiores transportadoras em volume no Uruguai, por exemplo, operando com cargas do setor automotivo, de papel e celulose, metalmecânico, entre outros.

A tendência é crescer cada vez mais nas operações internacionais. As perspectivas são muito boas e as empresas buscam excelência nas atividades. Não é fácil operar no transporte internacional e o que nós podemos perceber dos clientes é que eles procuram, cada dia mais, fornecedores altamente profissionalizados e experientes, então existem muitas oportunidades para a BBM.

Quais são as maiores dificuldades enfrentadas para se operar no mercado internacional?

Prado – A primeira sem dúvida é conseguir equilibrar os fluxos de transporte, com cargas de ida e de retorno. Infelizmente o fluxo comercial entre os países não é tão balanceado, então esse é um grande desafio para tornar as movimentações internacionais viáveis. Existem também alguns entraves burocráticos com as diferentes legislações, e isso nós conseguimos mitigar por contarmos com a unidade de Uruguaiana e com uma estrutura em Buenos Aires. Elas sem dúvida nos tornam muito mais capacitados do que outras empresas para atuar no transporte internacional.

Na verdade, quando falamos em legislação, tanto no Mercosul quanto no Brasil, ainda existe muita coisa que poderia ser simplificada. Observando países como os Estados Unidos e alguns da Europa, que servem como referência, as leis são muito mais simples. No Brasil existem duas logísticas: a física e a documental. Em mercados mais evoluídos toda a parte burocrática já é digital, por exemplo, e as empresas podem focar muito mais na logística física de fato. Nosso modelo tributário e fiscal é um dos grandes responsáveis pela complexidade das operações. Até por isso os clientes procuram empresas cada vez mais especializadas, capazes de atender a todas as exigências que são impostas pela legislação.

Como está configurada a estrutura física da BBM?

Prado – Além das unidades já citadas, nós temos mais de 40 armazéns distribuídos por todo o país, que estão mais ligados às operações de transporte, para atividades de cross-docking, consolidação e milk run, por exemplo, com operações dedicadas para dar suporte à movimentação das cargas dos clientes.

A BBM conta com uma frota composta por quantos veículos?

Prado – Nosso volume médio de veículos rodando por mês é de 4 mil. Isso engloba frota própria, veículos de terceiros e agregados dedicados, que é um aspecto no qual nós estamos crescendo bastante. Nos últimos seis meses nós aumentamos em quase seis vezes o número de agregados, pois queremos contar cada vez mais com parceiros fixos. Isso porque nosso foco é priorizar os níveis de serviço e ter uma estrutura que seja a mais dedicada possível.

Crédito: Divulgação
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Vocês foram muito afetados pela recente greve dos caminhoneiros?

Prado – Todo mundo foi, na verdade. O Brasil parou por alguns dias, e é claro que quem trabalha com transporte foi afetado diretamente. Mas a BBM acabou até crescendo com isso, devido à maneira como nos posicionamos muito próximos aos clientes. Nós saímos muito fortalecidos desse momento complicado. Recebemos diversos feedbacks positivos a respeito de como nós conseguimos tratar o assunto e, por isso, tivemos um acréscimo de 3% no volume operacional junto aos nossos clientes.

O tabelamento do frete vai influenciar as operações da BBM?

Prado – No nosso caso específico não muito, pois como eu disse, nós procuramos trabalhar com estruturas dedicadas, então o modelo de contrato de transporte não é feito por viagem.

O último mês de junho foi o melhor do ano para a empresa, certo? Isso tem algo a ver com o período de greve, que criou uma demanda reprimida?

Prado – Nós realmente tivemos um acréscimo de volume de carga devido à greve, como eu disse, e a impressão pode até ser essa, por se tratar do mês seguinte à paralisação, mas na verdade o resultado obtido se deve ao nosso crescimento orgânico mesmo. Basta observar que em julho a receita foi muito próxima à de junho, quando alcançamos R$ 57,2 milhões, um valor duas vezes maior que o registrado no mesmo mês do ano passado. Esses resultados se devem não só  ao aumento nos volumes dos clientes, mas também a novas operações. Se nós considerarmos somente os novos clientes, com quem fechamos contratos nos últimos 11 meses e que já estão com a operação rodando, somamos quase R$ 100 milhões anuais. Nossa previsão é fechar 2018 com uma receita de aproximadamente R$ 700 milhões, o que significa um crescimento de 100% na comparação com o acumulado do ano passado.

As novas operações são uma parte muito importante do crescimento que a BBM vem registrando, e isso é resultado de um trabalho comercial bastante forte não só com novos clientes, mas com os que já são nossos parceiros, para que as operações com eles cresçam cada vez mais. E isso tudo está aliado à nossa alta capacidade de investimento, que faz com que possamos aproveitar as oportunidades que o mercado oferece. Daí a importância de lá atrás a empresa ter detectado a necessidade de contar com um fundo parceiro. Empresas de transporte exigem bastante capital, porque existem muitos custos à vista, mas o recebimento apresenta certo delay. Então, para uma empresa de transporte crescer, é mandatório ter poder de investimento. E nesse ponto o Stratus nos trouxe muita força.

Todo esse crescimento deve ter exigido também investimentos em capital humano. A BBM conta com quantos funcionários atualmente?

Prado – Estamos hoje com 1.600 colaboradores no total. Sem dúvidas, na mesma medida com que a empresa cresce, as demandas internas também aumentam, e é preciso contar com mais mão de obra. Por isso, como eu disse, nós reforçamos todo o backoffice da BBM, inclusive com muitos profissionais sendo promovidos dentro da própria empresa.

E tivemos também o processo de integração com a Transeich, que foi um enorme um sucesso. Ele ocorreu muito rapidamente, em apenas 100 dias, e sem nenhum tipo de problema. É importante ressaltar que 100% da equipe composta por quase 400 profissionais foi aproveitada.

Toda a integração aconteceu em apenas 100 dias? Como isso foi feito com sucesso em um prazo tão curto?

Prado – Esse é de fato um case para a BBM, e o próprio conselho da empresa reconhece que foi um trabalho extremamente bem feito, diferente do que se costuma ver no mercado. Eu acho que o segredo do sucesso foi olhar bastante para o lado humano: as pessoas que chegaram se sentiram tão valorizadas quanto as que já estavam na BBM. Fazer com que elas se sentissem bem-vindas foi muito importante.

E realmente a integração foi muito rápida. Outro fator importante é conciliar perfeitamente o discurso com a prática. Sempre que acontece uma aquisição, existe todo um discurso padrão de integração, e se ele não estiver realmente alinhado à prática, isso vai gerar desmotivação na equipe. O que nós fizemos foi priorizar a verdade dos fatos desde o começo. Em um primeiro momento, nós não mudamos absolutamente nada nos processos da Transeich, respeitando todos os modelos operacionais da empresa e procurando entendê-los. Nós não chegamos querendo mudar nada. O discurso era “queremos aprender com vocês”. Passada essa fase, o discurso se transformou em “agora vamos construir juntos uma empresa única”. Dessa maneira, surgiram novas ideias até mesmo na própria operação. Quando as equipes das duas empresas se tornaram uma só, foi fácil identificar as melhores práticas.

Crédito: Divulgação
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Novas aquisições fazem parte dos planos da BBM?

Prado – Sim. Nosso foco hoje é olhar pras operações e pensar em como podemos fazer nossa rede logística ser cada vez melhor. A BBM já conta com uma capacidade muito grande de prosseguir com seu crescimento orgânico, mesmo não fazendo nenhuma aquisição. Entretanto, nós temos consciência de que podem surgir oportunidades de compras com um valor extremamente estratégico, justamente para melhorar ainda mais nossa rede logística. Então nós estamos constantemente avaliando possibilidades. E o Stratus tem muita experiência nisso também. Dito isso, é muito provável que no médio prazo nós façamos mais algumas aquisições.

Tendo como base que critérios, principalmente?

Prado – Um dos pontos é a abrangência territorial, para expandir ainda mais a presença da BBM em todo o Brasil. Aumentar a capacidade técnica da equipe também é um critério importante, pois quando se faz uma compra são absorvidas não somente as pessoas, mas os conhecimentos que a empresa adquirida possui. E o terceiro ponto é a entrada em novos segmentos, aliada à incorporação de novos clientes.

Quais são as perspectivas da BBM para os próximos anos?

Prado – Até 2022 a previsão é ultrapassar R$ 1 bilhão em faturamento. Usando um valor simbólico, digamos, existe a possiblidade de investir aproximadamente R$ 50 milhões ao ano para chegar a esse objetivo. Eu digo simbólico, pois não existe um compromisso com valores exatos, porque eles dependem das necessidades que forem identificadas. Esses aportes são necessários para sustentar o crescimento orgânico da empresa, e isso inclui coisas como compras de novos equipamentos e inaugurações de novas estruturas, por exemplo. E outra parte dos investimentos está relacionada às possíveis aquisições, de acordo com as oportunidades que podem aparecer no mercado.

As expectativas quanto à empresa são as melhores possíveis, mas e quanto ao Brasil, diante de tantas incertezas políticas?

Prado – Eu diria que nós estamos vivendo um momento que demanda muito otimismo. A situação política está tão complicada, que se não houver otimismo as coisas não andam. Na minha opinião, é nítido que 2018 já foi bem melhor que 2017, e a esperança é que 2019 prossiga assim. Uma coisa é certa: nós vamos seguir investindo e acreditando. As coisas precisam acontecer, não tem outro jeito. A BBM já cresceu muito mesmo com todas as adversidades, então a tendência é que isso continue.

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