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O Brasil pode crescer muito, pode até quebrar, mas não pode ficar parado

Por Alessandro Scapol Compatangelo el 14 de enero de 2019 a las 13h53 (atualizado às 14h00)
Alessandro Scapol Compatangelo

Quando falamos que o Brasil é o país do futuro muitos torcem o nariz, talvez por se lembrar de que na tenra idade já escutava a mesma frase – sejamos francos, pouco criativa – dita por seus avós e depois, como uma tradição que passa de geração para geração, sendo lembrada por seus pais. De fato, há que se concordar que a expressão não desperta qualquer motivação adicional para se levantar da cama numa segunda-feira chuvosa. Talvez até acabe gerando um efeito contrário, o do cachorro vira-lata, como se o futuro fosse aquela analogia para dizer que o momento do Brasil jamais chegará.

Sendo assim, prometo que a partir de agora vou deixar de lado essa frase de efeito (ou seria de defeito?) e passaremos a analisar o nosso país do ponto de vista apenas do seu potencial. Mas o que seria potencial? Recorrendo ao dicionário Aurélio potencial é o “conjunto dos recursos de que uma atividade dispõe; capacidade de trabalho, de produção, de ação”. Dou-me o direito de definir potencial de uma forma mais simples, como sendo a quantidade de recursos disponíveis e ainda não explorados, em parte ou na sua totalidade.

E o Brasil é exemplo de recursos disponíveis e não explorados, ou na melhor das hipóteses, mal explorados. Vamos a um exemplo na cadeia logística, uma das etapas mais estratégicas do processo produtivo das empresas. Quando falamos em logística estamos aqui nos referindo desde o transporte dos insumos (inbound), passando pela logística interna (movimentação entre as linhas de produção, entre armazéns etc) e finalmente a logística do produto acabado (outbound) para entrega no cliente.

Uma forma para entender o potencial do Brasil é comparar a nossa logística rodoviária com o sistema rodoviário dos Estados Unidos, por serem países com dimensões territoriais parecidas. Os Estados Unidos possuem a marca inacreditável de mais de 6,5 milhões de quilômetros de estradas. O Brasil, apesar de estar entre os países com maior malha rodoviária do mundo, tem 1,7 milhões de quilômetros, quatro vezes menos estradas que os Estados Unidos. O problema fica bem maior quando falamos em qualidade. Nesse quesito o Brasil está muito atrás do resto do mundo, com muitas estradas esburacadas e pouca manutenção.

Enquanto no Brasil cerca de 60% das cargas são transportadas por caminhão, modal caro quando comparado às opções ferroviárias e marítimas, nos Estados Unidos, apesar de contarem com quatro vezes mais quilômetros de estradas, apenas 30% do volume é transportado pelo modal rodoviário. Não é preciso ser engenheiro de transporte para entender que mais estradas e menos caminhões se traduzem em maior produtividade no transporte.

Ainda analisando apenas o transporte rodoviário, apenas 20% das estradas no Brasil são pavimentadas. Esse número nos Estados Unidos supera 65%. Estradas pavimentadas reduzem o custo de transporte e as avarias nas mercadorias. E finalmente um número que traduz bem tudo isso: o custo logístico no Brasil representa cerca de 13% do PIB do país. Já nos Estados Unidos esse valor cai para 7.8%.

O Brasil pode crescer muito, pode até quebrar, mas não pode ficar parado

Imagine você um cenário onde Brasil e Estados Unidos na verdade são duas empresas, Brasil SA e US SA. Se você tivesse que escolher entre as duas para trabalhar, muito provavelmente escolheria a empresa US, por ser mais organizada, mais rentável e consequentemente por esperar uma melhor remuneração, plano de carreira e um bônus gordo.

Mas e se você fosse um consultor, contratado para identificar oportunidades, otimizar processos e consequentemente reduzir custos? E se a remuneração de seu trabalho estivesse diretamente relacionada aos ganhos obtidos? Em qual empresa gostaria de trabalhar, a empresa Brasil ou a US? Onde existiriam as maiores oportunidades de redução de custos e aumento de produtividade? Onde você acha que existe o maior potencial?

E aqui voltamos ao início da nossa conversa. Parece não haver dúvidas de que o Brasil é, dentre as grandes economias do mundo, a nação que tem o maior potencial de crescimento econômico, pelo simples fato de ter uma logística ainda ineficiente, cara e por toda burocracia que afeta diretamente a cadeia de suprimentos de uma empresa.

Naturalmente se colocarmos aqui todos os demais entraves do país, começando pela questão dos juros elevados, sistema tributário complexo, custo da mão de obra e as dezenas de outros males que afetam nossa produtividade, estaríamos reforçando ainda mais o potencial do nosso país.

Mas que fique claro que o fato de ter potencial não significa que o acesso a ele seja fácil. Não podemos esquecer que a empresa Brasil tem uma dívida que cresce a cada dia. O faturamento, por mais que avance, tem sido insuficiente para evitar o aumento continuado da sua dívida. Não há como se investir em um cenário como esse para melhorar a produtividade. É necessário primeiro cortar, diminuir, dar alguns passos para trás para depois avançar.

Sem uma reforma profunda, que garanta uma dívida sustentável e permita os investimentos necessários, seremos apenas lembrados como uma empresa (país) de grande potencial, mas que fechou as portas porque não conseguiu pagar as contas do dia seguinte.

O Brasil pode crescer muito, pode até quebrar, mas não pode ficar parado

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